Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Enquanto apenas lembrança

“Minha anti-Lolita foi uma comoção de saias,que iniciou (sem querer) na vida dos homens, quem tinha o medo de ser homem sem nenhuma causa de ter o medo de ser homem ;deu-me um convívio de formação (também sem querer) belo, árido, terrível,espinhoso,terno,maravilhoso.
Deixou-me interiormente andrajoso e vagabundo, perdido no mato sem cachorro, em terras sem mato e sem cachorro, muitas vezes.Minha anti-Lolita de hoje,apenas belo monumento sob a cinza dos anos ,mesmo enquanto apenas lembrança, excita e intumesce uma vida que apenas quer ser vivida em paz e recolhimento de quem muito já sofreu e já se deu ao mundo e quase nada o mundo lhe deu, em tépida indiferença; vida morna de sentimentos frios, onde esbarrei na flor da minha obsessão , na alegoria então desbotada dos vinte e seis anos de minha vida ,que seria obsessão aos cinqüenta , aos setenta e cinco, (sim , com certeza será) porque fui tardiamente atirado ao aprendizado de ser homem, com todos os seus afetos de medo, alegria,tristeza ou de simplesmente ficar á espreita de mim mesmo.
Enquanto comoção , forte demais para mim e para si mesma, passou , avassaladora como chegou.Hoje, apenas grata recordação num recesso da mente, onde guardo os rebotalhos da existência,tal uma roupa velha,sapatos de destino incerto,bonecos mutilados, livros sediciosos á minha impaciência,recordações de vocação ao pó que não juntam poeira, porque constantemente manuseadas , reviradas pelo pensamento crítico que um dia não o foi ; por isso mesmo, feito passageiro da stultifera navis , embarcado sem bilhete de retorno , sentindo-se desgraçado e maravilhoso , vivo como nunca dantes .
O telefonema de um vizinho , avisou-me de sua morte ,numa tarde de frio aziago e sonolento,enquanto eu via na TV,National Kid exterminar os Incas Venusianos. Falou que ninguém até o momento reclamara o corpo ; do caixão e flores comprados numa cota entre vizinhos . Ah , sim : morrera de infarto, o segundo. Agradeci , liguei para uma sua irmã em Mato Grosso que enviou dinheiro para o traslado do corpo .
No aeroporto, ao lado de um avião ,penso na vida e na sua morte: uma tapa na cara a lembrar-me da própria finitude .Da carcaça podre do verbo, ergue-se a árida certeza : o ataúde aguardando transporte, ladeando o avião em transito para lugar nenhum.Ventos conhecidos de outras paragens, abraçavam-se e rolavam pela pista , como filhotes de cães , agitando a grama ao redor . MP,1966. “

NOTA: Texto por mim encontrado , entre as páginas do diário do professor Manasses Paletakis , após minha mudança para o apartamento onde residiu durante sua longa vida de solidão plácida e erudita , até suicidar-se aos noventa anos, atirando-se no vão da escada interna do prédio, estranhamente com um charuto havana aceso entre os dedos e um exemplar de Tabela Periódica, de Primo Levi, num dos bolsos internos do seu casaco, junto a um bilhete de suicídio ; informação prestada á polícia, pela senhora R.S, vizinha de pavimento e suposta amante do falecido , conforme insinuação do síndico do prédio, em depoimento também prestado na Delegacia do Bairro de C.


Autor: André Albuquerque

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