Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 14 de julho de 2012

Cântico

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Não inspira,
Não me importo.
Vivo assim:
Dentre tantas mentiras,
Escolho uma ou duas
Que, ao menos,
Façam sentido pra mim.
Por isso, amigos,
Se quiserem,
Me acusem de poeta cínico
Ou de ter partido
As asas do querubim.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
É mentira!
Não me importo.
Em verdade tudo transformo
Ao som da lira,
Porque gosto
De verdades mentidas
E gozo
Ao ver aqueles
Que ainda crêem
Em coisas absolutas
Na vida.

Malgrado digam:
Tu és louco!
Teu canto
É nada ou pouco,
Não me importo.
Torno-me os versos
O meu reverso
E os ofereço a todos
Sem esperar nada,
Nenhum troco
Ou que percebam
O próprio engodo.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Está morto
Ou morrendo está,
Com isso me rejubilo,
Por saber
Que componho um hino
A todos fraterno,
Que nos deixa isentos
E desnudos do fardo
De sermos eternos.

Malgrado digam:
Vives da rapina
Do dia-a-dia,
Transformas a poesia
Na nossa ruína,
Não me abato;
Escrever só nos lancina
E nos inocula
Com o mundo
E a estricnina.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Faz-me sentir
Num exílio,
Não há encanto,
Nada de sublime
No teu canto,
Não me espanto.
Não há como atingi-los
Sem antes
Cometer-se um crime,
Expor numa vitrine
Tudo o que nos reprime
Para a quebrarmos
Beligerantes.

Malgrado digam:
Só amas o chão,
O parco instante,
Não me importo.
A terra, o céu,
O sol radiante,
O corpo vão,
Tudo o que vês
Perecerá
Nesta láctea via
De fluidez.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Te vai mandar
Para o inferno,
Não me importo.
Sei que nada é fixo
Ou sempiterno
E que, como todos
Que se persignam
Com crucifixos
Ou que não crêem
Na parasceve,
Em breve,
Me tornarei pó, lodo,
Enquanto cantam
Os rapsodos.


Felipe Mendonça -
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Uma morte azul

... comprimir – lhe o pescoço em meio aquele azul estonteante , o céu como se fixado por um prego, a brisa marinha hesitando sobre um mar que seria até macio em seu azul e poemas,perceber a vida esvaindo-se e a entrega do corpo ao próprio destino , ao fim comum e desejado por nós, por ela principalmente, que não mais desejava a angústia medida do saco plástico e meus polegares a constringir - lhe a traquéia . Transfigurada , consoante ao azul maravilhoso que nos protege e envolve de cima a baixo ; o mar , arremate final da pequena morte ensaiada em tantos quartos de hotel dispersos pelo mundo , luxuriante forma adiada de morrer sucumbindo ao orgasmo convulso, á estripulia de sensualidade (o que é um nome?),a camisola de seda meticulosamente dobrada,creme sobre o corpo perfeito e macio,
- Por que não três gotas de Chanel número cinco ?.
Mesmo não sendo um homicídio (que de certa forma era) , antes suicídio consumado a quatro mãos (duas da bela assassina de si mesmo) nem assim o queria plágio :
- Não sou a Marylin
Gostosas e tépidas mãos do seu mais louco amante, disposto a ir onde os outros recuaram por não compreender que aquele morrer era um supremo gozo , inigualável porque definitivo em seu impacto de vagalhões de prazer a submergirem o seu corpo, azul da cor do mar, entre aquelas tão pequenas ilhas, onde tudo isso poderia ser um filme (nós e apenas o sol por testemunha) mas o sol não era nada, apenas figurava naquele equador , no esvair-se da vida comum para a liquidez que dissolvendo, acrescenta-nos ao todo maior.Então lembrei da primeira vez que me ordenou o suplício,aquela pequena introdução á asfixia, em meio ao gozo, sacudida e inundada por mim , aríete e fonte , a serviço do tesão infinito, multiplicado á cada compressão do pescoço sedoso, luzidio ,untado,perfumado e cheirando a sol , minhas mãos deslizando na mesma cadencia em que lhe percutia o interior, a caminho do prazer oceânico , seguido do largo e profundo sono dos amantes .
Então , que o mar te receba , azul em todo resplendor que um veranico poderia nos oferecer ; agora toda inércia e serenidade, atingiste o teu nirvana ; percebo o sangue nos meus braços lanhados por tuas unhas que apenas eu sei resultado do prazer supremo , não do medo nem do tolo apego á vida que sempre censuraste , pois toda maneira de amor vale a pena ; entre nós, a vida tangenciando a morte anos e anos ,em que te completava e seduzia, pelas mãos mais fortes e precisas já vistas nas tuas andanças pelo mundo . Descobri a proximidade de viver e findar-se , no momento do gozo , onde morremos para nós mesmos e para o mundo na brevidade casual e humana que nunca te satisfez. Escolheste hoje, o gozo supremo , sob este céu sem nuvens e um sol agora meio escorregadio para a curva do horizonte,deslizando,como indo ao teu encontro, no cemitério marinho .
Ligo o barco ,faço- o descrever um adeus em larga e preguiçosa parábola ; sigo sem olhar a esteira do meu caminho , vezo e sina de vida breve .

Conto de André Albuquerque


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