Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Palavra Andarilha



Vazia é a palavra que não anda
Não se desloca
A palavra que anda
Traz sentido
Intervalo para o entendimento

A palavra andarilha anbre trincheiras
Existência
Experiência

A palavra resolve se anda
Se cai
Se escorre
As vezes se esconde
ou inesperadamente se mostra
A palavra se desloca
e cria e recria territórios

Eu palavra nômade
Nós palavra andarilha
Andar é deixar de ser ilha
Palavra fluxo
Palavra refluxo
Palavra andarilha
Poder implícito
De quem se recria.

Ivone Landim.


Cântico II


Quantas vezes
Já morreu e nasceu
Esta árvore?
Quantas vezes
Já morreu e nasceu
Este pássaro?
Quantas vezes
Já morreu e nasceu
Estas montanhas?
Quantas vezes
As marés já
Me raptaram e devolveram
Este mar?
Quantas vezes
Já morreu e nasceu
Este corpo?
Olho agora
Eternecido
Para meu último renascer,
Para o meu mais recente parecer.
Filho,
Devo dizer-te:
Já fui,
Já fomos
O trilo
Do pássaro,
O grilo
Que tem no bico,
Já fui,
Já fomos
O seu pipilo
Ao nascer,
O pistilo
Da flor
Antes de morrer,
O silêncio
E o sigilo destas serras,
O céu
Quando me rutilo
Em nuvem, em sol
Em mar.
Porque ontem,
Hoje, amanhã
Fui homem,
Pássaro, mar,
Esta manhã
Que, em breve,
Morrerá,
O Cáspio
Ou Egeu
Nos refolhos do eu.
Já estive roto,
Todo sujo
E magnificamente
Pintado
Num vaso etrusco,
Já estive
No esgoto
E no luxo,
Mas sempre cerúleo
No âmago de tudo,
Porque a consciência
Mesmo ciente,
Se perde,
Esvanece,
Mas a matéria
Permanece,
Se atreve
Contra o momento,
É o próprio manto
Espaço-tempo,
O início,
O Quantum.
Porque ontem,
Mais uma vez
Vi a flor e a tez
Que fui, que fomos
No féretro,
No moribundo
Ou na prenhez
Do mundo,
Vi como fui,
Como um dia apareci
Antes de assim parecer,
Mais uma vez,
Antes do que sou,
Deste corpo
Esvanecer-se
Ao morrermos.
Vi que a memória
Da matéria
É a inércia
Desses montes,
Algo que jamais esquece
E guarda-se sempre
Do discurso, da prece
Ou da quimera
De quem se desespera
E se nega
Para nos impingir
Uma única vida
Eterna,
Enquanto somos tantas
Que perecem.


Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados

domingo, 26 de agosto de 2012

...que ao abraçar já não pode me apontar uma arma

nas quentes noites de meu desassossego, quem dera minha mão pudesse expressar o que vai em meu peito repleto da estranha beleza que ocupa meus sonhos, na mesma intensidade, com que tenho assistido a mudança das estações, os pássaros migrarem para o sul... esvaziando o céu quando é inverno e em seguida espalham-se pelos campos na primavera, carregando nas pinceladas como se o céu fosse o teto do mundo. em meu coração o tempo para... parece que tudo se move, até mesmo eu. ao perceber isso... o tumulto do silencio parece uma linha de bordar a profunda e poderosa presença da saudade, que ao me abraçar (treme) já não pode me apontar uma arma... minha alma joga a toalha em três pedaços e dois endereços enraizados em meu coração... ao terminar essa carta, espero que compreenda que a distância que separa é o mesmo paraíso que nos cerca onde a história se repete como uma âncora do vento no céu...

Autor: Vânia Lopez

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=229473&com_id=885152&com_rootid=885152&com_mode=nest&com_order=0#comment885152#ixzz24gN0J17Y
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Como estás, estimado amigo

eu não ando bem
envelheço
com os dias tão estranhos sujos de vida e lentos
e tu como vais
tenho saudades
dos tintos naqueles balcões vidrados
até que a mulher nos chame
por vezes a tua
noutras a minha
esta terra tem boa gente e bons tintos
e muitas inconsequências
não achas, amigo
quero saber como andas
não digas que bem
as tuas olheiras trazem metáforas
e todas elas dolorosas
eu escuto
por hábito
porque estou contigo
desde há muito tempo
que quer dizer sempre
sempre é uma palavra de amizade
por onde andas, diz-me
manda uma carta-poema-diário
como costumavas fazer
numa destas tardes
levei o meu desemprego a passear
sentei-me no cais do rio
ao pé da ponte velha
com uma lata gelada de cerveja
um pacote de pão e fatias de presunto
fiquei ali a ver o reflexo da ponte no rio de prata
lembrei-me de ti
ali a meter fatias de presunto
em fatias de pão de forma alentejano
e os turistas a olhar para mim
e eu a comer e a beber a cerveja
ainda pescas, grande amigo
robalos percas trutas
eu pesco poemas e mulheres bonitas
sozinho sempre com a companhia
dum pequeno rádio que canta coisas antigas
até as pilhas acabarem
saudades, amigo
agora vejo petroleiros
fábricas vazias na outra margem
e as gaivotas
vivemos num pais tão sossegado
será que morreu

Poema de Carlos Teixeira Luís

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=229257#ixzz24MqcBcOl
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

terça-feira, 21 de agosto de 2012

quem entender o gesto de um piscar de cílios...

sempre no meio dos pensamentos as palavras ditas à meia luz, tudo que pulsa e arde, junto a seus passos pelo chão. na eternidade do verbo o gesto do silencio. o longe e a miragem, o adjetivo jogado, o fundo misterioso de um pratinho com data e hora de seus olhos que me levam muito além... entrelaçam-me na roupa da cadeira, que veste uma delicada espera. me pego amando o mostarda das tardes no eterno do tempo, como suave ilusão. - quando tu partes urgente a se perder em mim...

(tem quem chame de inferno)
eu afirmo que é nesse rosto de menino que tudo se justifica... devolves aquele sorriso nas dores que não existem, com um cântico nos lábios, faz da noite um turbante invisível que desejei ter rezado...

Autor: Vânia Lopez

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=229090#ixzz24EMrMGpr
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Sarau Donana




É neste sábado dia 25/08 apartir das 19:00 horas, mais uma edição do SARAU DONANA. Convidados Especiais: Lírian Tabosa (Poeta), Claudio Camillo (músico e compositor). Apresentação do grupo Pó de Poesia. E teremos exibição dos curtas: Toques de Sancofa, Entre Grades. Local: CCultural Donana, Rua Aguapei, 197, Piam, Belford Roxo. E lembre-se
e você faz parte desse encontro!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

[Das pétalas espalhadas pelo chão]

Das petalas espalhadas pelo chão que cairam do teu ventre,
apanho-as uma a uma,

chamar-lhes-ei de vida.

E quando as coloco em vasos de cristal,
onde o sol bate desde a aurora,
vejo-as renascerem em flor,
acolhem-se então as aves fugitivas sem poiso.

Da nudez de sonhos teus, qual tafetá que te cobre,
tento agarrar algum que seja,

enquanto a noite aguarda o nascimento de uma nova estrela cadente,

chamar-lhe-ei então de encantamento.

Quantas estrelas encerras em ti, perguntar-te-ei.

Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=229065#ixzz248Sz3wkN
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 37

À porta do Marquee de Londres. 50 anos depois. Keith Richards, Mick Jagger, Ronnie Wood e o baterista, como é que se chama, brinco, o avô Charlie Watts. 5 décadas de desaires políticos, sociais, económicos. 5 décadas de aniquilamentos e linchamentos, bombardeamentos e limpezas étnicas, assassinatos e violações, fome de milhões e um planeta doente e infeliz, quente e com falta de ar como um pobre velho asmático. Haverá pachorra para mais rock n’roll. Diz-me tu o que pensas.

Eu estou um pouco farto mas ainda a ver como envelhecem mais ainda esta trupe de loucos. Loucos milionários. Uma fórmula que deu resultado. Encarnam o que milhões queriam viver, bem lá no fundo. Mantêm as caricaturas e personagens na linha do que o público espera deles e é vê-los a encherem os estádios. Uma geração, diz-se. Já é mais do que isso há muito tempo. São lendas porque duram. Já lá vai o live fast, die young. O que se admira é a longevidade, o velho sonho que volta. A velha, muito velha utopia. Vida longa. A fazer-se o que dá na gana. A maioria dos que os vêem nos concertos quer ser assim. Não podendo, veneram quem pode. Ou quem encena que pode. São palhaços metafísicos. Que aplaudimos faz 50 anos. Não acham que já chega?

Autor: Carlos Teixeira Luís

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228669#ixzz23oCqW2Hz
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

carochas, bicicletas & biplanos - 35

Paris Texas, filme de Wim Wenders (1984), cenas únicas de Harry Dean Stanton perdido a caminhar numa das paisagens mais conhecidas da América, que surgiram em milhentos westerns. Uma homenagem à paisagem e ao cinema americano do realizador europeu mais americano de sempre. Argumento de Sam Shepard, afinal quem mais. Natasha Kinski num dos seus papéis mais emblemáticos. Um filme com banda sonora de Ry Cooder. Marcante. Árida. Ainda hoje a uso para acalmar. Vi e falei tanto do filme que muitos amigos e familiares, a esposa, apontam para mim sempre que alguém fala em Wenders ou Paris Texas. Como se fosse um sinónimo. Paris Texas = Eu. Ry Cooder = Eu.

Mas o filme-metáfora de outras coisas – as coisas que queremos usar e imaginar, para mim um belo um tratado da arte de Fugir. Fugir apenas. Há sempre uma fuga possível para bem longe mas também há o retorno da fuga. Uma outra fuga dentro da mesma, com passos perdidos que nos levam não para longe mas que não deixa de ser fuga. E tu de que foges. Para onde… Não te inquietes, vê o filme, por exemplo.

Retorno. Regresso. Outra espécie de fuga. Andamos fugidos e nada convictos de que seremos agarrados. Nem o espelho nos reconhece. Quem é este que me observa? E aquele que se afasta? A viagem. Eterna.

A paisagem dentro de nós. Através dos filmes das cançonetas de fronteira e dos blues desmaiados em lento ardor de deserto. Com a lentidão das árvores africanas mas noutro continente. Há uma estrada que não termina. Uma route interminável e antológica. Índia e selvagem, poeirenta e sábia. Tudo fica em nós até se desvanecer lentamente na memória.


Autor: Carlos Teixeira Luís

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228646#ixzz23oBr8MQc
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

[Naquele caminho onde as náiades nascem]

Naquele caminho onde as náiades nascem, dizias
existirem invernos que ruiram, qual o som das estrelas

penduradas nos mastros de navios pelejando o mar,

encontro apenas silêncios.

Olhar meu que procura infinitos luares
cercados pelo breve vogar das estrelas cadentes,
tudo recomeça,
tudo ruiu antes, até a floresta
que abrigava o descanso dos rouxinóis.

Serão mutações quão interminável vida
tantos estes solilóquios sem chama,
esconderijos, dizias-me,

quando te sentavas a meu lado,

olhares juntos, perdidos, sobreviventes.

Hoje, as náiades dançam em rios lá longe,
onde a vista não alcança,

onde não te alcanço,

onde silêncios são enterrados,

[pudesse eu parar-me no tempo...].


Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228825#ixzz23l2qvef7
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives



No varal da varanda
A gota de sangue insiste
Por dentro da camisa branca.

Marcio Rufino

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

rasgue as vestes num pano de guardar silêncio

velhos muros, teu sangue e a cor dos olhosapagai-vos como uma foiça rápida
traga qualquer chuva, uma garra delicada
menor que uma palavra

rouba-me a alma como quem rabisca o sagrado
deixe (só) meu vulto ao redor

converte-me em veneno
quiçá uma assassina ardente
que mata de modo suave
lento... súbito

rogai-me em tua boca
como sinos imóveis
peito em suspensas fugas
... num mundo tão morno
brinque com o verbo e o tempo

traga-me o infinito em golpes precisos
como uma oração cantada
desenhando o pecado
longe do tempo e das horas

como quem sopra o ar e nada vê
porque está olhando com olhos sem firmamento
guarda-me em um par de asas
no mero abandono de um silencio


Poema de Vânia Lopez

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228771#ixzz23fUiwbu4
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sodomia





Na minha frente
Tendo a areia como cama
O céu enrraba o mar.

Marcio Rufino

carochas, bicicletas & biplanos - 34

Às vezes vejo a série de televisão Shameless, versão americana. A versão britânica nunca me atraiu verdadeiramente a atenção. Prioridades de tempo. Não se pode ver tudo. E faz-se uma escolha. Uma hora por dia já é muito. A nossa hora diária e estúpida. Serve de descanso dos neurónios. Que depois morrem logo a seguir. É assim mesmo.

Embora os primeiros episódios sejam cheios de mamas e sexo como forma de marketing para se viciar espectadores e embora a história aconteça aos tropeções vão surgindo momentos brilhantes e dum realismo interessante. Como a tradução da série pretende: No Limite. Todos os personagens vivem no limite. No meio das caricaturas do pretenso real, há uma mensagem que perdura e é feliz na sua representação. Uma ideia de família, de comunidade, de entre ajuda. e nesse sentido não podia ser pior nem melhor. Podia ser bem pior e nada melhor. Podia passar-se contigo. Comigo. Mudemos o verbo: Não pode ser melhor, nem pior. Ponto assente. Sem vergonha. Apenas vida. A de todos os dias. Com os que estão connosco. Família ou os que estão connosco, amigos ou outra coisa qualquer. Sempre sem vergonha. Nos filmes são todos bonitos. Não há verrugas, nem excesso de peso, se o houver é sempre glamoroso. Nos filmes os dias passam e têm música sempre a acompanhar. Não se ouve os gritos nem o som dos automóveis na estrada a seguir ao nosso inferno. Mas isso é nos filmes. Aqui ao pé de nós só há gente feia e gente velha e gente desdentada. Nem bons nem maus. Apenas gente.

Na série temos William H. Macy como pai ausente e alcoólico. Um pai que prefere aleijar-se e receber do seguro a qualquer tipo de trabalho. Uma figura execrável que só um bom actor consegue mostrar. A figura central da série – a personagem que se odeia. Quantas vezes, no mundo real não é assim mesmo.
Jul./Ago. 12


Autor: Carlos Teixeira Luís

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228319#ixzz23WIgvPd0
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

carochas, bicicletas & biplanos - 33

No dia em que deixei de escrever poemas fui à praia na sua hora fria em que as pessoas a largam e deitei-me no areal esperando o pôr-do-sol e sorvi-o momento a momento e a partir desse mesmo momento dir-se-ia mágico, decidi que a poesia não mais seria uma muleta na minha vida. Na verdade nunca o foi mas decidi que não o seria. Nunca.

Assim que cheguei a casa, violei a minha própria regra e escrevi um poema de um só take, desculpem a expressão mas pareceu-me como que filmado mais do escrito. Sempre que quero sair o clube manda um cobrador a solicitar o pagamento de mais uma quota. Chega a ser opressivo. Como qualquer cobrador sempre impõem uma silenciosa ideia de desconforto ou de que algo de perigoso nos pode acontecer e jogam com o que não sabemos. Será que nos partem as pernas se não pagarmos? Nos riscam o carro? Invadem a privacidade manchando uma certa reputação adquirida? Podem fazer isso e outras coisas até nos convencerem a pagar? A simples ideia proposta por nós próprios quando avaliamos a atitude de quem nos assedia com um dever não cumprido causa-nos terror e é dentro desse jogo psicológico que o cobrador vive. Bem, ainda estou a falar de poesia? É a poesia um clube em que não se admite sair? Por exemplo, sair para nunca mais voltar. Ou sair para voltar se houver a vontade de o fazer, com a indefinição desta mesma medida. Por vezes é encarado assim. Poeta, logo poeta para sempre. Não concordo. Neste sentido, e só neste sentido, nunca literalmente, proponho de vez em quando, espancar o cobrador e ordenar-lhe que não volte. Um ataque frontal como defesa. Talvez ele nos deixe em paz. Ou mande outro cobrador mais sólido com outra capacidade de resposta e outras ideias perversas com o fim de nos convencer a voltar ao clube. E já que entramos no jogo, com violência, que é fértil em se multiplicar até á ruptura. E ainda estou a falar de poesia?

Bem, a poesia não é algo dominável como por vezes se pretende. Vai e volta quando quer e comporta-se como um rude agiota que cobra o que não podemos pagar. Ou não é assim e devemos atribuir misticismo ou divinizar a origem do acto de criar. Temos a liberdade de escolher o que bem entendermos. Eu não faço a mínima ideia de que escolher. Vou espancando o agiota de vez em quando e espero o dia seguinte, não antevendo nada. Absolutamente nada.
Ago. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228309#ixzz23WH3amsH
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Campo vasto...


Olhos de profundo segredo sagrado...
De campo vasto,
Metade malícia,
Metade casto.

((( Camila Senna )))

Ejaculo...


Com o Olho de Hórus,
Te observo...
Ejaculo todo seu desafeto.
Feto secreto, me faço!...
Não indago a pobre caça
Desgraçada que tenta o vinho da minha taça.


((( Camila Senna )))

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

é para dizer que parto

Estava
sentado, estaria sempre sentado
e vou escrever-te,
hoje,
que o vento é apenas um leque de flechas
aos pés
e só depois um salmão roendo foi
os teus moinhos de asma
e esse tojo coado para o mar.
E, hoje,
põe-te sentada,
o teu amor tem a urgência de uma metáfora
e essa podia bem ser o chão
do nosso quarto
quando a encontro de repente.
E, hoje,
não vejo os pássaros,
e por ser tarde conseguia ter os carros
como nuvens numa rota do nosso mel,
e correria pelo teu corpo
para dizer que parto
meu amor

Poema de Francisco Eugênio Seixas Trigo

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228596#ixzz23TL6UJ9t
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

domingo, 12 de agosto de 2012

"bater, bater.."

é..

parte da soma que te guarda o arremessso?
lépido ensaio de corpos e laços, tal.. conforto-adereço?


é um êxito ao culto dos sonhos-inclusos e fins?
algo deixado em amostras aos controles de ti?


é a fuga?
é a letra-toda-puta que desnivela um acto de pele?
uma noção do inferno que te refere às letras leves e que nao deixei. entrar?


é uma carta-rifada, sem consulta ou inércia operante?
uma criação errante de ilusão e anedóta fria?

é a lua mentirosa no céu linear?
é métrica qual lâmina que nao te pode desfiar?


ou..


é o tempo?
olhos fartos e/ou.é o preço que te compara em um
outro..
..exemplo?

é a lima que te serve em cela da minha vã expiação?
o meu pecado em alvo-consorte de vozes inteiras?
às

mesmas exceções e maneiras, que
um
dia,

o meu lar.. te reclamou?






..



eu cumpri a minha submissão em teu templo de factos
em decidi nao destruir o teu livre início que te faz retrato
eu. nem ao menos, agora sei em que partitura, te aquecer
nao te sei aos meus ensaios, minhas quedas ou te prever

qual lembrança que te seja em mácula da corda que rescindo
à luta mais curta de um hábito todo fixo ou culpa que te insiro
qual conto breve e advertido à forma impressa da que te há
da cena que te abstém, da premissa, de cada porém, deste ar..



..em queda,
em




algum outro lugar.







(toc, toc..)


Poema de Azke

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228536#ixzz23NjGRT8n
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

sábado, 11 de agosto de 2012

[Esqueço-me dos dias, restam noites abandonadas]

Esqueço-me dos dias, restam noites abandonadas,

silêncios alguns,
sombras que voam em frenesim,
quando encontro a minha, apiedo-me sem razão.

Tempos estranhos, delírios
intermináveis,
de nada valeram sonhos, encontros, fugas,

resisto-me.

Descalça te imagino, cousas minhas,
cabelos desfraldados ao vento que vem de norte
tapam o sorriso que sempre sobreviveu em
esconderijos meus,
que sejam secretos qual o invísivel rorejar disperso pelos nossos regaços numa manhã cendrada.

Assim a noite pariu arco-íris, afirmo-te.
Assim a noite escondeu os silêncios das sombras.

Assim se libertou o perfume do rosmaninho que cobre
as falésias por segar.

Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228469#ixzz23Gug8y17
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

[Bleasby's Street]

.


Céus cinzentos onde desce a cotovia
_Sobre as velhas antenas dos prédios gastos
Poemas de poetas há muito fartos
_Loiça por lavar, a senhora Robinson
________________________e o seu novo marido.]

duzentos dólares pagam a tua renda
_em Bleasby’s Street.


.

Poema de Mario Revisited


Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228413#ixzz23BkuIOoo
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vagina dentada


Vagina dentada,
Escancarada
A qualquer fluxo,
Caudal anônimo
De caras e de pênis,
Exibição e charme,
Feito artigo de vitrines,
Mas no fim: solidão,
Camada de carne,
De lábio e asfalto,
Elevando tapume alto
E muros feitos
De cimento e de murros.

A que horas deitar?
A que horas amar?
Mas sempre trabalhar,
Devorados, seta ferina
Na carne encilhada,
Inflamada ferida –
Grito, dorida anti-voz,
Abafada, contra o rito,
Pelo mito,
Pênis mordido
Por dentada vagina.

Boca sifilítica
A excretar purulenta
Pruridos, gonorréias,
Pequenas mortes
Paralíticas,
Virulentas panacéias
Contra o membro
Rígido, ereto
Em busca de afeto
Num paraíso perdido -
Teatro obsceno
De deleite e venenos.

Amor ou tesão?
Apenas fluxo!
Chafariz de repuxos
De pressa e de ódio.
Pergunta-se: - “O que fiz?”
Mas estica sempre a cerviz
Sob a camada dura
De raiva e de murros –
Ferida aberta,
Sem atadura –
Enquanto goza e mente
Semente amputada
Na vagina dentada.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados

Dois homens célebres


A atendente levantou a cabeça da agenda , consultou o relógio ao lado da porta da ante-sala do consultório , fechou o romance que lia e chamou :
- Monsieur Honoré Du Balzac, pode entrar . O homem baixinho e gordo , de aspecto pomposo e lerdo, ergueu-se do sofá , apoiando-se numa bengala muito bonita, talvez , até bonita em excesso, com detalhes demais para um objeto de destinação tão simples. Mancava um pouco com o pé direito e seu rosto apresentava uma palidez esquisita, que lembrava folhas mortas no outono , em busca de um solo macio , para dissolver-se ao léu , entre a aragem e as ainda raras chuvas . Uma rápida parada em frente da atendente , ergueu a cabeça ,trocou de mão a impecável cartola , fuzilou a empregada num olhar de desdém:
- Por favor, madame, Honoré De Balzac .Fui muito claro ao anunciar-me.
- Perdão monsieur...- entre atônita e constrangida, a timidez purpúrea
– O professor Laennec já está á sua espera , na sala em frente. Por favor... A mão suada e agora fria , abriu a porta da ante-sala , inclinando a cabeça em subalterna reverência. Quem diria, aquela ruína engalanada era o grande Balzac ! – pensou e tornou a ocupar o seu posto , voltando aos dramas do seu querido Hugo , encadernado e amado em marroquim e lombada dourada.Claro, presente de madame Laennec.
Um claudicante Balzac adentrou o consultório, trôpego, precocemente envelhecido aos seus quarenta e oito anos , um rosto onde se alternavam a irritação e o tédio . O gabinete do médico, de suntuosidade idêntica á de tantos outros que retratara , um arejado e se g u r a m e n te asséptico ambiente burguês , tão sólido quanto a reputação de seu dono . Mas a doença tinha os seus questionamentos, surgidos das noites de falta de ar , de dormir sentado , da insegurança até em subir num coche mais alto: Tudo o que fizera na vida , não era para ser um burguês superior, um aristocrata do espírito com o melhor que o mundanismo poderia oferecer ? A vida lhe dava um não sinuoso, quase um talvez , acabava-se aos pedaços, insidiosamente , nada definitivo , sem golpes de misericórdia , antes a sensação terrível que sempre acompanha a consciência aguda do próprio fim , sorvida homeopaticamente , administrada por uma providência cruel e indiferente .Sobre a escrivaninha , um inesperado busto de Minerva , contemplava um tinteiro onde Hipócrates reafirmava a legendária fealdade, um deus num corpo de íncubo . Uma venerável cabeça ergueu-se em sua contemplação , um olhar profissional sobre um sorriso de estranha empatia , mediu – o da cabeça aos pés e até um pouco da alma, quem sabe . Honoré sentiu um aperto de mãos firme e saturado de uma autoconfiança até antipática. - Sente-se Monsieur Balzac , por favor - a pálida mão apontou – lhe uma cadeira quase lateral á escrivaninha.
- Em que posso servi – lo ? – continuou , como se contemplando um ponto entre os seus olhos.
O homem pequeno e gordo desfiou um rosário de achaques , descrições de dezenas de outras consultas , tratamentos mal-sucedidos, visões da vida e da morte , onde a morte já se confundia com o viver , tal era sua existência naqueles tempos . Aquele homem era um grande médico , pensou enquanto descrevia os seus males . Só os muito bons conseguem tornar-se invisíveis olhando em nosso rosto e nos fazendo falar livremente, pensou aquele pequeno grande homem .
A torrente de insônias dolorosas e asfíxicas , a trôpega fuga dos credores e agora de si mesmo , os incontáveis bules de café , combustível para sua mente criar os cumes e abismos da comédia humana . A própria história transmutara-se num rascunho que agora narrava , em súbito improviso . Laennec elevara á categoria de arte a escuta das vidas e das algaravias dos corpos dos seus pacientes .Inventara o estetoscópio e os recônditos do corpo e seus sons, eram audíveis áquela mente curiosa e sagaz . Pontuava um calar-se estratégico com pequenas indagações, quase gestos . Os assentimentos de cabeça , d i r i g i a m aquele intenso monólogo .
Em seguida, passou ao minucioso exame físico, sob a guarda de um biombo . Honoré imaginava a procissão de enfermos que haviam passado por ali , naquele silencioso isolamento dos males do mundo. O médico empregou um aparelho tubular para escutar-lhe o peito e as costas. Percutiu-lhe o volumoso e dilatado abdome, extraindo sonoridades bizarras e distintas . Ao final , apontou – lhe o cabide, sinalizando o fim do exame :
- O Monsieur padece de diabetes mellitus . O seu coração e rins me parecem já comprometidos : essa inchação nos pés , essa falta de ar, essa elevada pressão arterial , a palidez terrosa e a urina espumosa e doce , falam por si só.
- Palidez terrosa ? Fantástico ! Já apresento então, afinidades com a terra que me dará guarida , a terra dos cemitérios. Que fazer para que Belzebu me esqueça ? Ou me considere uma empresa além das suas forças ? Laennec sorriu . Fitou novamente aquele ponto entre os olhos de Balzac. Subitamente, relaxou –se na cadeira , esticando o pescoço para trás , falando em direção ao teto trabalhado e burilado , numa passividade que tinha algo de felino em sua calma perspicaz:
- Monsieur, conheço-o de fama e já li alguns dos seus trabalhos. O senhor, á sua maneira , é um grande médico. Pressentir uma doença antes da sua manifestação , é um dom quase divino . Perceber as doenças que a nossa sociedade enferma produzirá, é algo fantástico. O meu trabalho é sobre aquilo já feito, já consolidado, já visível, auscultável e palpável.
- E daí ? Isso me torna mais fácil morrer ou viver ?
- A sua arte o está matando a partir de outro plano, o da imaginação. Seu urinar constante, sua rápida perda de peso e essa fome insaciável ,são o preço das madrugadas sem fim , atravessadas á café forte e exaustão mental , vivendo centenas e centenas de vidas a cada mês , com suas alegrias , frustrações , seres bem e mal amados , homens e mulheres desfilando um cortejo ao mesmo tempo maravilhoso e mortal para o senhor. Em seguida, numa agilidade inesperada e jovial, sentou-se ereto e começou a escrever furiosamente numa longa folha de papel , a caligrafia nítida , equilibrada e sem floreios. Ao final , estendeu a folha ao já surpreso paciente:
- Aqui estão minhas recomendações . Foi um grande prazer conhecê-lo tão intimamente . Sei que nada fará do aqui recomendado, porque é regido por seus personagens e seu mundo, que lhe parecem muito melhores que a sua realidade de hoje , monsieur Balzac. Balzac agradeceu, pegou a cartola e saiu no seu passo trôpego. Laennec permaneceu de pé , mãos nos bolsos , contemplando sua escrivaninha.


Conto de André Albuquerque

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228235#ixzz22xBtUlmY
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Roteiros do Início da Europa (III)

.


no lago cismigiu
pela doce mão de ioanna
contarás todos os nomes que essa paris de leste
guardou para ti -

eminescu (o maior), odobescu, maiorescu, caragiale, cosbuc,
losif, creangã, vlahutã, zamfirescu, hasdeu,
balcescu e vasile alecsandri.

(e tu sabes que és o único poeta vivo, aquele que resta,
tu herdaste-lhes o castelo de vlad III)

depois, tranquilo, no bairro radu vodã,
todos os teus novos amigos no intervalo de um jogo do rapid
e a mesma vontade indecisa nos rostos,
a mesma europa aqui, tão próxima da tua mostar solarenga
ou do teu duende verde, além;]

ioanna (tão bela) dir-te-á amor nessa língua,
quando acenderem os luzeiros sobre o dâmbovita;

- onde bartók procurou a canção primitiva, ajustada
a uma dominante trémula, há tanto
e tanto; -

te iubesc


te iubesc


.


Poema de Mario Revisited

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228198#ixzz22uMnYaUa
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

sábado, 4 de agosto de 2012

Roteiros do Início da Europa (II)

.


quando chegares a cork city deixa-te levar
pela alegria do velho irlandês que entoa o «get on bord!»
ao partir do ballygarvan enquanto tu
o cruzas ainda confuso pelo antigo gaélico segredo;

esta viagem deves fazer sozinho;
atravessarás a winthrop street até a contornares e entrares
na contemporânea phonehouse - não deves esquecer os teus
amigos, longe na solarenga Mostar ainda;

no Ryan’s pub junto das docas, uma fresca guiness de espuma tão leve,]
que o rapaz encherá três vezes, esperando um minuto e meio
entre cada gesto, far-te-á compreender como o mundo
não é mais do que aquilo que tu trazes contigo;
e tu não trazes nada, tu és o começo de tudo,
neste aroma céltico.

um texano hippie, de longa cabeleira, notará como trazes
a aliança do anarquismo no fio do teu pescoço; e quando ele
te perguntar «you’re one?», dir-lhe-ás simplesmente
«I just pretend so», porque queres conhecer;
tu queres desaprender tudo o que europa de te ensinou tão mal
sobre si própria, afinal

na outra margem, deves passear ao longo do river lee;
tu sabes bem como te poderias perder nele para sempre
naquelas águas tão escarpadas e miúdas ao mesmo tempo
onde duendes e gnomos banhavam
os seus arcanos mistérios

nem deste por isso, mas entraste já no countryside
onde tudo é tão verde
tão verde e tão espontâneo, que só o lee
te acompanha agora, à tua direita

sente o sangue a circular pelo teu corpo
consegues escutá-lo, correndo;
agora entendes tudo pela tua pele e não pelo pensamento
que é como se deve saber das coisas com amor

a noite começa e acaba cedo aqui,
com belas raparigas tão loiras e de sorriso tão perfeito;
também aqui a europa em copos de plástico pelo centro da
cidade, que morre pelas onze horas logo e
estranhamente

mas tens ainda tempo
e trazes Mostar ainda no coração, sorris orgulhoso,
porque o amor nos torna orgulhosos

e quando pela noite encontrares o ritual celta nos lábios
saberás que tudo fará sentido daqui a muitos anos, que a juventude]
é essa meia consciência;
mas não agora


não agora, em cork city



.


Poema de Mario Revisited

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228017#ixzz22b5VWgVc
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Roteiros do Início da Europa (I)

.



nas ruas de Mostar
podes caminhar de alma lavada e o sol
de toda a europa aquecer-te-á os dedos relaxados
quando tirares um belo cigarro do teu maço
e na ortodoxia do dia claro
o acenderes pronto

belas raparigas não te devem fazer esquecer
como é bom com os velhos amigos de sempre
descansar sob a ponte do Neretva
de toalha na doce erva e rir
de ti próprio e de como eras o mesmo
há tanto tempo;

cortarás um bom queijo, com pão, maravilhosas azeitonas]
que só o mediterrâneo te dá
e o laranja pôr-do-sol fará encantar os olhares
das virgens de Medugorje
sobre ti

tranquilo, deixa que a noite caia
que a europa não seja mais
do que aquela rapariga que veio agora ter contigo

e segue-a como se segue

a um deus





.

Poema de Mario Revisited


Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=227975#ixzz22Zu0jsvU
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

uma notícia para meus leitores

Hoje serei a noite, debaixo do sol, a dançar, e, hoje,
dir-me-ás sempre que nunca o vento me levou tanto
a descendência do teu moinho sublinhada pelo
pólen, e, só hoje, suavemente sublinhada quando é
a madrugada um vinagre amputado de braços, ou
dir-me-ás sempre que a água é um fio que gosta
de atirar as flores para o céu, ou que gosta
de perder-se com pequenas charruas dentro
dos setembros com sol, e até ao parto desse espelho
agarrado pela noite ou até a esse parto num ramo
de onde alto sairá o mar e que quis sempre dar-to

Hoje serei a noite, debaixo do sol, a dançar, e, hoje,
dir-me-ás sempre que nunca o vento me levou tanto
a descendência do teu moinho sublinhada pelo
pólen, e, só hoje, suavemente sublinhada quando
a madrugada ia levando o sol como o pedias,
e dir-me-ás sempre que o sol é o última planeta do
nosso sangue que se vê em pecado até os rios que
chegarão à Sesimbra numa corrida de fundo para
as rosas, e que chegarão num loureiro de hálito
diferente doado ao vento, doado e quase como uma
boina para um instante de seda, Meu amor



As gôndolas nas grandes luas de Plutão será brevemente
editado em Espanha. E, só graças a vocês, isso foi possível.
Hoje, eu sou um poeta feliz por isso, e também curioso
para ver a musicalidade que o tradutor irá imprimir…

um abraço a todos
Deixei-vos um poema, que é dos últimos que escrevi.
E isto é um privilégio, penso eu

http://www.bertrand.pt/ficha/as-gondo ... uas-de-plutao?id=13053296


Poema de Francisco Eugênio Seixas Trigo

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=227913#ixzz22Zpt20T5
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=227913#ixzz22ZpMvR00
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Declaração

.

a antónio josé forte



eu bric-à-brac na ilharga em imenso escroque
cingido por três varandas a dar para uma rua de noite
muito confiante pelo mapa-múndi à tiracolo
porque cor-de-rosa em extremo;

ela (e não outra) apenas dedicada ao poeta inútil
e aos seus versos sem unidade e desde há muito prometidos
por ocasião das vespas (K.320);

(que esta ninguém a esperava assim tão baixa num poema
fabricado a toques-de-asa)

isto ou o que for
para glória da poesia local e bastantes plumas a rodos eméritas]
sirva de exemplo ou guilhotina

quer para árvore dextra (mário) ou
_____________________a muito azulada estrumpfina.


.


Poema de Mario Revisited

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=227897#ixzz22R7YeJda
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

[...sejam-me símiles à espuma do mar


sejam-me símiles à espuma do mar olhares teus,
quais santelmos anunciadores de bonança.

Segrego-me de aluviões, remoinhos, tormentas,
ameaças,
e quedo-me pelos sargaços distantes de terra
que me abrigam.

Pelo alto mar habito-me entre um mastro e o vento,
revejo a praia deserta

onde se espraiavam ondeares teus,
onde as mãos entrelaçadas eram âncoras fundeadas.

Sentir-te-ei sempre quão perto este mar é de mim,
mesmo que numa breve noite se afoguem sonhos,

mesmo que numa breve noite me olvide para sempre de mim.

Que seja.

Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=227787#ixzz22I8InJUA
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives