Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 30 de março de 2012

[é pela noite que as orquídeas voam]

é pela noite que as orquídeas voam
soltando as pétalas pelo caminho,
e enquanto os olhos não adormeçem,
sento-me num cais algures, olhando
almas que se passeiam como aves pelos campos de linho,

fala-me das almas, conta-me dos caminhos,

enquanto o poema se transfigura e redondo rola como uma pedra na direcção do abismo por mim criado.

Palavras.

Fala-me de mim ou de ti, das fugas
que se esconderam por todas as viagens mesmo as que já foram um dia virgens impolutas,
dos faróis que encadeavam os olhos cansados,
diminuindo distâncias de adamastores furiosos,
do arco-iris que iluminava o fundo das fendas
que reluziam como tesouros destapados da terra submersa, fala-me.

Que me interessa o amar, de que me serve
se a saudade resiste e invade o ar perfumado pela primavera[?].

Palavras.

Sim, é pela noite que as orquideas voam,
e sobre o mar por onde os meus passos calcorreiam levantam-se as pétalas em remoinhos deixados pelo vento adormecido,

acordam marés julgadas perdidas para sempre,
ficam os silêncios de mim ou de ti,
[como se isso importasse agora...]
e nem as palavras que calámos incomodam o içar da âncora.


[nas palavras que ficaram coladas ao céu da boca nasceram versos que se julgavam perdidos pelas folhas rasgadas nos caminhos cobertos por pétalas das orquídeas que voam pela noite].
Palavras[?].



Autor: Transversal

segunda-feira, 26 de março de 2012

Samba...



Do samba eu gostei
Com o enredo, encantei-me...
Do seu quietinho modo...
Conduzindo-me o corpo, mais ainda.

Tem lugares que por mais banal que seja
Só é mágico e acontece com a pessoa escolhida...
Para que aconteça com emoção a melodia
Sem caligrafia, sem teoria.

Num dia, timidamente nos olhamos
Noutro, saímos de mãos separadas...
No decorrer, dançamos, rimos,
Nos beijamos e ao sair, toda a Lapa no silêncio
Bamba da noite aplaudia nossas mãos em efusão.

Mesmo sem saber se depois
Perpetuaria a leveza daquela noite
Que por pouco não aconteceria,
Mais os deuses conspiraram a favor e todo o plano mudou.

Nesse samba não coloco nem as mãos
Deixo o vento guiar conduzindo a direção.

Gostei da sintonia
Senti a energia
Adorei ouvir:" você é meu número""... (rs)
Resumindo:" prazerosa foi a noite boêmia
Com direito a samba tomado de poesia.


Camila Senna


sábado, 24 de março de 2012

[Sou tentado pela cor das cerejas]

Sou tentado pela cor das cerejas como se de tentação eu escrevesse,

mas da cor cai-me a imaginação
direita ao mar, ou o inverso,
[que me importa?],
como se a seda vermelha, por vezes mais escura,
deslizasse pelo teu corpo, e eu,
me completasse no teu peito, no teu ventre.

Desventro-me assim sem dor nos luares finais de março.

E tudo recomeça mais uma vez,
como se as marés ignorassem o homem do leme,
o desconhecessem, o tratassem como
intruso,

e repito-me que sou tentado pela cor das cereja,
porque o sabor não destingue as cores,
porque poucas são as árvores de todas as cores no além do mar onde existe um arco-iris sem inicio que se afunda algures,
sempre longe de mim.

Que alguns desses deuses me recolham enquanto me afundo por perto,
colhendo a cor das cerejas,
que plantei,
no dorso das baleias em migração.

[Migram-me o silêncio, a tentação em colocar [sempre...] a minha cabeça no teu peito].


Emigra-se o medo, assim seja.



Autor: Transversal

quarta-feira, 21 de março de 2012

a seus olhos blues, vá...faça barulho por favor...

Poemas : à seus olhos blues, vá... faça barulho por favor...
através do ar... o som do seu sorriso
os mesmos olhos
a mesma boca
as mesmas sardas
como um bule fervendo o tempo todo...

como posso eu cicatrizar?
se cada vez que vejo seus olhos
sinto dor...
como se partisse um fósforo

minhas mãos não voam mais
vá, faça barulho por favor
mexa o cabelo
como se eu pudesse esticar o braço
e ouvir seu sorriso por meus lábios

nunca me lembro de esquecê-la
bebo-te como a terra depois da seca

eu me deito aqui e queimo
... se não queimar
como posso iluminar a noite?...




Poema de Vânia Lopez

BOMBAS


Onde estão as casas
Que as bombas levaram?
Onde nasceram as bombas
Que os bombardeiros soltaram?
Os gritos das crianças chamando
Por seus pais com os olhos embaçados
Ainda vagam pelas luas
E os pedidos de ajuda
Ainda ecoam sem serem
Ouvidos

Arnoldo Pimentel

sexta-feira, 16 de março de 2012

[estranho]

Sempre quis o silêncio, aquele onde os sons se suspendem, onde, nem o respirar liberta sussurro, por um dia só que seja,

e lá, nas fendas que se querem
em lavas,
entram ilusões que revejo,

palavras em imagens,
isso, eu sei.

Agarro então o ar
que as orquideas libertam, inspiro-o,
sinto a terra raiz de que me libertei,
regresso, rapidamente,

ao pó,
e as minhas mãos colhem searas outrora ondeadas pela brisa da primavera que por ali ficou estancada,

e o tempo passou,
isso, eu já sabia,

renascem as visões repetidas, gastas
partidas sem piedade, porquê a piedade que se parte como cristal ao amanhecer? [ou pelo canto de uma prima-dona inspirada que ouvia nos domingos adolescentes...]. Sim, partidas.

E do amar que o escrito procura, resta o mar no suave ondear das vagas que se quebram em areais cobertos por girassóis ou por algas ou por corais ou...,

estranho,

como se tudo fosse estranho, sem cor,
abanam-se os sorrisos,
abrem-se as rotas naqueles hemisférios que se depenam como garças no além mar em silêncio.

Quanto ao silêncio que me inunda, por este dia só, que seja, regurjito alguns versos,
apenas alguns versos no silêncio do papel.

Isso, desde sempre o soube, desde o sempre.



Como o cavalo louco, sem freio, acendo o cigarro sem filtro que se cola aos meus lábios, teus, estranho.



Autor: Transversal

quinta-feira, 15 de março de 2012

"(qual-breve.)Sortilégio",

alimenta o meu posto.
dá-me trégua de mãos aladas e. em costumes de afronta
bate às trevas em minha porta
apressa-me o passo de ir
de vir
quase julgado de ti e por derrota
eleja-me. em:
lajeado-penitência por rescindir-te
eleja-me fim.




conforma o meu coração
fecha bem os meus ensejos e me conte lá, o teu nome
ou
diga-me pra correr..
ria-me aos escombros e tombos, e assombros de lépidos declínios
à curia que te fiz ao meu lapso
(já agora.. o)meu
acaso.
aos
(in)versos (in)férteis de (in)glórias mundanas e vis..







diz
a que devo ser, em presente..
liquida o que te resta ao meu palco servil, demente(, doente..)
e
acende-te à estopa.













..







traga os meus olhos pra te verem aos de antes
comprima o meu ciúme à uma sala fixa e fria.
desminta-me. quando em sonhos, eu nem(mais) te quiser
à espera da chuva que (ora.)me levará..




exemplifica-me.



qual anedóta de pertences e palavras
às escursões que fiz ao inferno só pra te deixarem, por lá, passar..
(ilesa)




ah,
cortina..

deita-me em linha repetente de tragédias e cenas
às de-limitações de um apenas, "enfim"
lentidão.. seja-me. dos ademais adereços em tua permuta
posto que
não me calarei. até q vc me "escolha"
ou.
até que ao ver-te, eu..









esteja desperto.
(ou não mais te esteja)



ah-eu(nunca!) te serei..

Poema de Azke

segunda-feira, 12 de março de 2012

recaída irrelevante

os olhos não chorarão:
hão de, lentamente, morrer,
e serão invernos na mão.

os lábios serão frios
e não haverá rio a correr:
serão costurados ao frio.

não haverá mais verão,
e o sangue há de escorrer
uma última vez ao chão.

hei de morrer assim:
quando enfim ela beber
o último gole de mim.

Poema de Caíto

sábado, 10 de março de 2012

As gôndolas nas grandes luas de Plutão

Se
ainda nos víamos, foi numa sombra:
é uma noite nos teus olhos e nos meus,
sem ramos, sem braços, sem ser tua:
é um bosque quase perfeito,
e passando por ela vejo os teus olhos
quase sempre,
o véu das tardes, esta neve árida
num forno sem filhos,
a tinta desses chocos loucamente luminosos,
onde as estradas passam
pelos poentes


Poema de Francisco Eugênio Seixas Trigo

sexta-feira, 9 de março de 2012

Mulher

Ser mulher
É não querer do mundo
Jamais provar apenas
Uma colher,

Muito menos
Deixar de sofrer
A dor ao gozar
De prazer.

Ser mulher
É matar em si
Quem se troca
Por uma vida qualquer,

É ser o que se quer ser,
Mulher, desejo fundo
De jamais ser mãe
Senão de um novo mundo,

É querer ser muito mais,
Amar meninos
E vagabundos,
Poetas e assassinos,

Ser mulher
É coser
Para emaranhar-nos
Inda mais no querer,

Ser mulher:
Madalena, Lilith
Ou Helena a amar-nos
Como hiena ou menina,

Ah mulher,
São luas cheias
Tuas nádegas
E minha boca as pleiteia!

Ah mulher,
Esparjo-me
No teu seio e sexo
Sedento e gago.

Ah, e minha língua
Bebe teu gozo e saliva
Toda a vida
Que em ti nunca míngua!

E nos teus cabelos
Sorvo o perfume
Que me transporta
Aos altos cumes...

Sorvo tudo
Em longos haustos
O teu corpo desnudo
Onde me farto exausto.

É alongado espasmo
O meu gozo
É cair, transe, orgasmo,
Num fundo poço.

E quando descanso
Enfim
É porque te traduziste
Em mim...

E só descanso
Quando sei
Que foste além da colher
Que te impede mulher!

Quando sei
Que enfim
Cumpriste o teu mister
E te tornaste, sim!, a Mulher.

E o teu mister
É amar,
É querer beber
Todo o mar!

É saciar
Desejos inconfessos,
É quebrar
Os votos professos,

É rezar
Para o Diabo
E deixar que te amem
Toda, de cabo a rabo!

Ah mulher,
Que fizeste?
Estamos nus
E é a nossa nudez o que nos veste.

Mulher,
Que fizeste
Senão amar tanto
Santos e cafajestes,

A ver neste chão
No qual piso
Tudo que é sublime
E celeste?

Ah mulher!

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 7 de março de 2012

[nos reflexos do sorriso]

Cantam-me as manhãs de luz,
iluminadas,
e nos reflexos do sorriso, teu,
desapareceram as ansiedades, minhas,

mudam-se os ventos, molda-se
o barro, e da água constroem-se
castelos de núvens que ficam
como os de areia, aguardando.

Aguardo-me no tempo da viagem,
que o tempo me esqueça,
que março termine,
que o mar acalme,
e nestes tempos que o tempo
tenta desfazer,
brotam corais nas lagoas paradas,
trotam cavalos loucos pelos
campos de linho,e o sol
destapa-se da noite em aurora.

Posso não compreender as faces
do mar, nem as alturas das ondas,
nem o cantar da baleia azul,
posso,

do tempo que me escasseia olho-o,
sem temor, sem nostalgia,
que o raio seja breve,
e que da terra sem margens
ou barreiras, sossegue a flor de lótus.

No sorriso, só teu,
ficou o olhar, só meu,
e,
no tempo de todo o sempre tempo,
se encurtem as viagens,
que regressem as andorinhas,

por fim.

[Afinal, a tua primavera, está tão tatuada em mim],
[...]
final: nada mais me interessa,
resta-me o mar, e o som de um violino,
que o tempo então, me esqueça.


Autor: Transversal

terça-feira, 6 de março de 2012

ave maria Cheia de Graça

mulher é Eva
garra que agarra
terra acolhedora
luxúria no corpo
sonhos de conhaque
reflexos do infinito
por centímetro ou quilometro
devoram caminhos

costela de Adão gerada no útero
choram intensidades
para saborear com seus chinelos
sufocam abismos com um biscoito

há algo poético quando afastam o mundo
ajeitando os cabelos
quando a primavera reflete-se
no canto dos lábios
teme-se a doçura da cor

passam como séculos
mas se eu disser a você
... tudo desaparece
(como se se esconde-se de Deus)


Uma pequena homenagem
as mulheres.




Poema de Vânia Lopez

segunda-feira, 5 de março de 2012

rubor

Sai de ti um pincel perfeito
pintando a aquarela perdida
nas sete cinzas do meu peito

Caem as gotas na minha teia
de sangue em veios da ferida
que me atingem de lua cheia

Abro abraços em sete léguas
mediando noites entre vida
e adormeço flores nas águas

Reino por sobre o escombro
da paz feita árvore vencida,
esperança partida no ombro

Lançam as cores que me deste
amor em véu e terra abatida
no azul do céu, nada celeste

Entram mais umas inocências
na paleta à guache escorrida
cores e gestos de infâncias

Trabalham meus fios de trigo
misturando em rima à medida
o pão de verso que é consigo

Poema de Caíto

sábado, 3 de março de 2012

Tinta e raiva

achei que descobriria o gosto das manhãs, o pôr de sol castanho, o batom com cheiro de flor de maça, o significado do seu nome, frágil e doce. mostrar como se voa ou como o vento penteia seus cabelos enquanto me olha menos... que teus olhos. choram os lírios como guitarras emudecidas, outra noite se desdobra, pequeno grão de nada, morto por trás desses olhos. vá! diga-me porque posso odiá-la mais e mais em doce desespero, como cicatrizes voltando e minha voz torna-se tinta e raiva sem nunca amá-la menos... como se nuvens estivessem
vagando em seus olhos arranhando o céu
(da minha alma).



Autor: Vânia Lopez

UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE (Arnoldo Pimentel)

UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE

                                 

     Abriu a porta e saiu para a varanda, queria sentir o frescor do anoitecer, ficaria por ali olhando a estrada de terra que passava em frente ao portão. A varanda era grande, com algumas plantas, assim como o quintal daquela tranqüila casa de campo. Caminhou até a cadeira de balanço do lado esquerdo da mesa de madeira e sentou-se. Do outro lado da estrada havia uma casa, do lado esquerdo uma curva e do direito uma reta até o centro do bairro.  Ali é tudo quieto, vez por outra passava um automóvel e podia-se ouvir os pássaros e o som do riacho lá no fundo após a curva da estrada de terra. Seu coração já não era tão forte como em tempos passados e por isso não se sentia bem na cidade, não se sentia mais um homem urbano. Depois de alguns minutos sua esposa, companheira há mais de cinqüenta anos veio sentar-se ao seu lado, com passos também curtos, um tanto cansados, atravessou a distância entre a porta e sentou na cadeira de balanço ao lado da sua. Ficaram alguns minutos em silêncio admirando o anoitecer. Ela sabia que ele gostava de sentir o toque do vento em seu rosto sem muitas palavras. Assim ficaram e a noite cobriu o quintal, ela levantou, acendeu a lâmpada e voltou a sentar.
- O que você pensa quando está aqui? Perguntou Maria
- Sinto que algo escapa de mim aos poucos.  – Respondeu José
- Algo como?
- A vida, talvez.
- Sente-se infeliz?
- Não, sinto-me feliz pela vida que tive.
- sente saudades de quando éramos mais jovens?
- Acho que não, tudo tem seu tempo, agora só me resta esperar enquanto fico aqui sentado observando a natureza.
- Eu sou feliz por todo tempo que vivemos juntos.
- É tão bom ouvir isso de você.
Ficaram novamente em silêncio, quem sabe não estavam lembrando cada um ao seu modo tudo que passaram juntos. A noite era fresca e as estrelas piscavam, talvez para a lua cheia que ilustrava com sua beleza aquele pedaço do céu.

- Quer um refresco? Perguntou Maria
- Quero sim, uma laranjada sem açúcar – Respondeu José
- Vou preparar.
- Enquanto espero ficarei observando a lua e as estrelas.
Maria levantou-se para ir à cozinha e José ficou na cadeira de balanço, balançando e ouvindo a voz das estrelas cantando pra lua. Era apenas um lugar, que ficou escondido no tempo em que a cadeira balançava na varanda, tocada pelo vento, protegida do sol, protegida da chuva, dos olhares ermos que passavam na estrada, dos sonhos que vagavam perdidos, enquanto o outono não dobrava a esquina pra deixar a manhã vazia.

Maria voltou com a laranjada e colocou sobre a mesa, ao lado de José, mas ele não esticou as mãos para pegar, ela sentiu um aperto no coração quando viu seus olhos fechados.

- “Talvez tenha dormido” – Pensou
- José
- José
Ela tocou seu ombro e sua cabeça caiu para o lado
- Meu velho, não me deixe sozinha
- Não me deixe sozinha meu amor, não me deixe sozinha
O vento parou de balançar a cadeira e lua escondeu-se atrás das nuvens que deixaram as lágrimas caírem na noite.


Arnoldo Pimentel

quinta-feira, 1 de março de 2012

uma guitarra de pecados

Irás sozinha,
como se perdesses a noite e sempre a noite
que faltou aos campos
no meio das tuas mãos e poderei,
também eu, ver o que não vi: a geada dos
cordeiros ou a surdez da lua
dominada pelas nuvens.
Eu sei que o teu amor está fechado,
e que é sempre cedo para tê-lo: parece que
o vento é das cegonhas que salvam as jóias
do teu seio e às vezes é de noite, às vezes é
de manhã e o vento prende-se com pequenas
chamas, com a meia urze dos cálices
no horizonte para onde ias: às vezes são
gestos, rosas, uma guitarra de pecados,
os papéis assinados às fontes,
os papéis assinados pelo Novembro, sobre
os degraus para as ilhas que anoitecem,
ou o sol que as segue até tão longe.
Eu já não te escrevia nada e está sempre
vento e quase sempre o lugar
vaginal do quarto crescente,
como um vitelo sobre as marés,
e um vitelo em vigas sóbrias
depois sobre a seda
que um dia trouxe
das harpas e se
como os teus dedos
à volta o dissessem tão suaves
voando, como voando vai um
poente de veias na evocação dos cristais
que alguém atirou para o céu, ou as lágrimas
dessas esmeraldas onde durmo e para onde eu
ia com a tua urgência,
Meu Amor


Poema de Francisco Eugênio Seixas Trigo