Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Novas litanias a Satã

Ó tu terrível pai dos desgraçados,
Deus de todos que vagam derrotados,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Pai que por ser tão pródigo e ubíquo,
Fez do homem tanto santo quanto iníquo,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Primordial senhor de todo o andrógino
Que hoje afliges o devasso e o misógino,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Ó fé sem nenhum culto ou liturgia,
Inspiraste a mais negra litania,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Ó tóten ignoto da memória,
Cúmplice do ladrão, de toda escória,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Deus de quem elabora, vil, as farsas
E em transe bebe o sangue dos comparsas,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Pai do que afoga as mágoas na cachaça
E vive um dia-a-dia de desgraça,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Quem põe a quase todos de joelho
Diante de sinistro escaravelho,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Aquele que nos leva, em ânsia e febre,
A tudo dissipar num lance breve,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Ó tu, Pai da cobiça que me aferra
E nos conduz à luta, à inveja e à guerra,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Cão feroz que devora nossa entranha,
Mercador que co’a vida faz barganha,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Pai daqueles que clamam por Jesus,
Mas somente ao inferno fazem jus,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Senhor de quem se assola no cigarro
E ao mundo só oferece o seu escarro,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Sugeres o poeta e até o asceta
E imprimes tua marca à toda meta,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Terror que nos enreda em fortes súcubos,
Paixão que nos persegue até o túmulo,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Moral que leva mesmo os mais notáveis
À fome e à desmesura incontroláveis,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Tu cuja mão engendra os artifícios
De vidas que se perdem entre edifícios,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Deus do acaso, incidente eventual,
Jantas conosco, cúpido e letal,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Tu que tudo vês, nossa atroz miséria,
Malgrado vida pródiga e venérea,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Caído como tu do firmamento,
Fui expulso também do pensamento,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Satã, ouve, portanto, esta oração,
Com que cubro meu corpo em ablução,

(Tem pena, Satã, desta carne deletéria)

Que aqui devoto a ti, toda a semana,
Pai e razão da enorme angústia humana,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Origem do que chamam ser humano,
Tudo que torna nosso mundo insano,

Tem pena, Satã, desta carne deletéria.

Felipe Mendonça -
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