Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Arqueologia

Vez ou outra
Dou uma espiadinha pela fresta da porta.
Olho o caminho percorrido
E sempre acho, em meio às pegadas,
Um pequeno tesouro esquecido e enterrado.

Uma mão estendida,
Um olhar compassivo,
Um sorriso no momento exato.
Uma palavra...

Encontro, também, remédios amargos,
Intramusculares,
Daqueles que doem muito,
Marejam os olhos e apertam o peito.

Não observo ossos
Deixados pelo caminho
Porque coisas mortas só assombram
Minhas noites de sono tranquilo.
Minha arqueologia é sobre
As coisa vivas, que pulsam
E me ensinam novos caminhos a percorrer.


Outro dia,
Em um desses passeios,
Encontrei o perdão, só,
A muito tempo esperando por nós dois.

E tento trazê-lo desde então.


Poema de Milton Filho

domingo, 27 de novembro de 2011

Canção da manhã

Nuvens de poeira na estrada
jipe serpenteando
multidão de bóias-frias em marcha
sol nascente se espalhando
quero-queros em revoada
gado ruminando no pasto
galões de leite fresco nas porteiras
ribeirão cantando sobre os seixos
suave ranger de rodas de carroça
galo cocoricando no galho do abacateiro
aboio de peão barítono apaixonado
brilho e tilintar das enxadas e das foices
pés de cafés sendo colhidos
som de berrante potente
abafando todos os outros sons,
tudo na mais perfeita ordem
e eu, voltando do baile
com a viola nas costas,
chutando as pedras do caminho...

Poema de Betusko

Abutres

Podres abutres,
vós destes o corpo do meu nome
Sem benzi mento ou caridade
ao voraz esquecimento.

Os dentes onívoros
Dessas aves insaciáveis
não imaginam a ressurreição
do outro corpo nominal
que desenvolvo no útero do verbo.


Poema de Jean Narciso Bispo Moura

sábado, 26 de novembro de 2011

Supernova

“Porque tu és pó e ao pó retornarás”
(Gn. 3:19)


A supernova
É flor de raios
Apavorando
Floricultores,
A tantos povos
A contemplarem
Imenso brilho,
Origem e fonte
De todo o riso,
Do todo o choro
E da pergunta
Sobre o que somos,
Para onde vamos.

A supernova
É nossa mãe
E nosso pai,
Deu causa a tudo,
Ao teu destino
E à nossa fé,
Gerou profana
Buracos negros
Insaciáveis
E até as unhas
Tão comezinhas
Do nosso pé.

A supernova
É geometria
A ejetar-nos
Um rubro espectro,
Etéreo aspecto,
A quintessência
De todo o cosmo.

A supernova
É substância,
Todo o minério
Do teu planeta,
O claro enigma
Do teu mistério.

A supernova
É ferro e cálcio
Carbono e boro,
Matéria orgânica
Do teu desterro
Em supersônica
Exsudação.

A supernova
É festa e luz,
Tão branca luz,
Tão fero brilho
È vida e morte
A explodir
No céu da China,
Em Cassiopéia
E na Serpente
Ao olho enorme
De Brahe e Kepler.

A supernova
De nada esquece
E a si requer
Matéria outrora
A ti emprestada.

A supernova
Está no fundo
Do altivo céu,
Além do véu
Do firmamento,
Na grande Nuvem
De Magalhães
Que se te espelha
Destino e halo.

A supernova
Não mente ou ri,
Te dá o dente,
Depois o toma,
É tua origem,
É tua esfinge
Espelho e berço
De todo o fim.

A supernova
É muito séria,
Térmico útero,
Fornalha cósmica
Colapsada,
A Sanduleak
Brilhando mais
Que a própria Vésper
A derramar-se
Por vasto céu.

A supernova
Encena os céus,
Condena os céus
Com raios gama
E raios-x,
Ponteia os astros
Do cientista
E do menino.

A supernova
Que tanto amas
Em ti reponta
E te reconta
A própria imagem,
O curso d’água
De toda a vida.

A supernova
É a inflação
De quente lóbulo
Que nos semeia
Novas estrelas,
A sementeira
Evanescente
Que te refaz
E degenera.

A supernova
Põe a serviço
Toda a matéria,
E novas nuvens
E nebulosas
Que te fecundam
E te inoculam
Veneno e pólen
Do céu longínquo.

A supernova,
O bronze e a pátina
De novas vidas
E novas Terras.

A supernova
Deu tempo ao homem
E o subtrai
Do solo ao cosmo.

A supernova
Te dá o câncer
E a rara chance
De redimir-te
Ignorado
E ignorando
O próprio acaso
De toda história.

A supernova,
A destrutiva
A destruir-se,
A destruir-me
E a construir-nos
Do pó sidéreo.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados

Beber essa coragem líquida...

trata-se da terra e da água
os dois lados da mesma moeda
amor eterno por um biquíni

revolta operaria
aguardando um assovio

passos da cama até a porta
leite evaporado

tua sombra na bainha das pernas
repousando na paciência do corpo
criando outra camada de mim

reivindicando a metade
na partilha de momentos felizes
(um duelo do que ainda vai doer)

como se a alma devesse fugir
... e o corpo não aceitasse

dor, só não me empunhe sem motivo
só não me embainhe sem alma

na incansável turnê de dentro
(que conversam ao mesmo tempo)
arredondando cada trilha nascente
do que jaz não vive mais em mim...

Poema de Vânia Lopez

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

VÊNUS

Algumas camisas estão

Penduradas no cabide
Esperando que o guarda roupa
Seja aberto
Para poder apenas
Por um instante
Ver o mundo lá fora
Sabendo que apenas uma
Será escolhida
Para passear

Este poema faz parte do livro NUVENS  de Arnoldo Pimentel
Para adquirir entre em contato
Email: arnoldopimentel@gmail.com

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

jaz um vermelho cheio de grama

chora o sapato negro
perdido nas lágrimas do céu

retalham o peito
anjos inconscientes da imensidão

desdenhosos demônios
de uma saudade carmim

fazes uma falta tão bruta
que a faca não alcança a alma
... morre a sombra em pedaços

(a pensar em mim)


Poema de Vânia Lopez

terça-feira, 22 de novembro de 2011

"carnália.."

carnália..

da pura sede por enredo e fim
ao momento lépido das culpas de mim
ao enunciado e corpo-caso de prévias
quais chamas agrilhoadas em peça

carnália..

minha carta desviada por intenção
assassínio veto que te comparei, é possível?
tal providência à margem de ata-criação
tal elemento evasivo ao que não me é por líbido..

carnália..

minha lenda de rendas e actos do corpo
tropo.. mentira e conselho dos olhos, e aqui
misantropo enleio de guardar-te aos poucos
oh, coloração da pele que tanto/tanto é de ti..

carnália..

prega-me à estaca que te ofereço
mata-me em noites infindas e das quais, esqueço
um.. lado desvio inoportuno conto de sinais
ah, eu.. deitaria o sol pra te ver(um quanto) mais..


carnália..

baixa a minha lâmina
segreda aos ouvidos, dor..
carnália, me acalma, me ama
ou:



dá-me fome(da) pétala do ventre que te roubou.

Poema de Azke

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"áquila.."

ao lado.
(de cá)

vénia-tombada
(parte-tomada)
da água que me refere
(ou: confissão-imediata)
à: sensação-adjunta
em:
corpo-suave(ou: teu-único.)
queda da casa de causas..
(fonte: lúdica..)
às: asas repentes e lá mais, o que tiver de incisão.


preces sub-entendidas
escadaria da vaidade
(absurdo..)


à linha que me conflagra o desapego
é: arte-cênica
ébrio conto de moções
de
dúvidas
aos meus alheios e preventivos segredos(orações..)
às:
aspas..
em consumo de mentiras(culpas..)
de contacto e: ilusão.



a
linha..



tal alvo por execução aos meus desvios
empregos solícitos de fuga, mas:
eu,
sempre fico.





à exigência de querer mais um pouco
seja-me à lápide que deitarei um dia
seja-me, o retorno.. das minhas (ditas)canções.





ah-eu..



esqueci-me disso tudo..
o que vejo é o teu lado/pecado/conflito(impulso: fogo!)
e,
ainda.. frente.
em
paredes desiguais
eu,
esqueci-me de ter o registro
da calmaria em minhas mãos por remar à revelia
quando em


corpo/bússola, este contracto
este presuposto acto em vão, enfim






te vai.
(e: te cria/e te cria..)


Poema de Azke

Uma carta, um plágio

Milton, esta carta é só para lhe dizer
Que chegou o fim da linha.
E você sabe, é fato.
Você tentou, você lutou,
Mas cadê a competência?
Você não tem, aceite.

Os melindres dessa gente,
O rancor, a hipocrisia,
O olhar enviesado,
A falta, mesmo, de amor,
Como plantar neste solo infértil?

Arrume as malas, Milton,
Separe suas parcas sementes
E vá plantar batatas em outro sítio,
Outras terras...
Não fale de respeito aos surdos
E desdentados,
Porque não há paladar para tal ambrosia.

Não tente mais convencer os convencidos,
Os zumbis, as múmias...
Ame, apenas, como as pedras:
Ninguém as notam,
Mas sustentam edifícios.
E não tente tirar leite das nuvens,
Das brancas nuvens,
Das pálidas nuvens,
Ou daquela brisa em particular, são iguais.

Não esqueça você também, Milton,
Sim, você, também verme,
Hipócrita elevado ao cubo,
À potência de dez, mil, milhões...
Você, feito de átomos e moléculas,
Que irão se transmutar em matéria pútrida,
Banquete para ti mesmo, verme dos vermes.

Vá e não volte mais,
Senão quando for luz e competência,
E puder matar a sede e a fome dos miseráveis.
Até lá, meu filho, cala-te,
Porque é no silêncio que se tempera o espírito
E se forja a boa voz.


Poema de Milton Filho

sábado, 19 de novembro de 2011

Divina Perfeição

Verde vermelho
dourado prateado
lindas cores
lindas luzes
e brilhos
nessa época festiva
a esperança brota
(mais uma vez em nossos corações!)
Que lindo!
Que paz,
e que harmonia encantadoras!
É tempo de confraternização,
união entre seres, famílias,
brindamos à glória do nosso grandioso
Senhor
...
Depois?! ...
Ah! ... Confraternizaremos de novo!
Ziriguidum, é carnaval
folia, festa da carne (nua e crua) ...
E todos digam,
mais uma vez,
Amém!
Assim seja!

Jorge Medeiros
(19/11/2011)

Três poemas de Vânia Lopez

o que se escreve sozinho

canto a voz colorida da tela
as tardes quentes de longas tranças
mil girassóis cabem dentro da minha mão
como um vento curioso
sangrando a morte dos sapatos novos
em gritos largos
há na dor um brilho que cega
o gosto da sua boca
no dourado em contraste com as horas
que perseguem sem trégua
o frio turva
a morte espera na rua
tudo que sou quebra-se em mil espelhos
atrás da porta o vazio me recebe
em murmúrios cálidos
sofrido, vivo
arranhando a tristeza em lágrimas que calam
numa dor pintada na coragem de ser feliz
chorando o vazio que sente
no mais obstinado poema
rompe em pedaços
na sola do sapato de alguém...

na linha de alinhavar...

amor mergulhe nos gestos
armados de dentes de lírios
de mil nuvens afogadas no pêssego
observe até que meu corpo
se torne uma melodia
até poder entoá-la a plenos pulmões

rouba os lábios da noite
inerte no vale do seu umbigo
eu vivo como uma nuvem mergulhada no céu
morrendo no azul imortal
miserável e pleno
solto nas horas da tua sobrancelha

é como se eu não pudesse te reconhecer mais
para saber quem sou
acabo voltando para morrer
morro-te em ais na ponta do lápis

sem uma linha escrita
deixa-me em rostos mortos
penando por ti em sussurros estendidos
em jornais antigos

enche então o instante
como um anfitrião generoso
e uma refeição quente
num jeito de esquecer

ou deixa-me sentir a música parar
molhada de orvalho
que lentamente passa
como alguma coisa que se perdeu
num duelo de vestido sem asas...

Pode marcar a hora e o lugar...

venha bem vestida
na melhor roupa
como se fosse o último bolero
rasgando dentro de mim

beije-me demoradamente
me olhe do jeito que sempre sonhei

numa palavra rude
rasgue-se em pulsos suicidas
em plena Colômbia junto aos guerrilheiros

só não venha no meio de um banho no chafariz
muito menos na melhor noitada
sem futuro que ainda viverei
também não seja besta igual uma queda de chuveiro!

morte acho que vou te matar!
você que mata tudo...
vais morrer em decepção
...já ando morrendo há tanto tempo
(que posso respirar em seu pescoço)
-E te aviso:
a conta não fecha nunca!

(em mel e enxame)


Poemas de Vânia Lopez

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Você seria capaz de me amar?

(Poema dedicado aos seres incompreendidos.)

Você seria capaz de me amar?

Eu só queria entender porque não há flores em meu jardim...
Se ainda há tanto amor em mim.
Eu só queria entender porque não ganhei seu coração...
Se ainda há melodia na canção.
Mas você não ouviu, nem sorriu, nem descobriu a ferida sangrando em meu peito;
E meus sonhos, todos dissipados em seu leito.

A incompreensão arrebatou-me de seus braços e a tempestade desatou nossos laços.
E eu chorei, desesperei-me e gritei feito um louco nas esquinas sombrias;
Garrafas vazias, cacos espalhados, enfincados em meus pés descalços;
Sem seu abraço, sem seu abraço.

Não posso crer que Deus me barraria à porta da cidade onde há felicidade...
Se não fui eu quem escolheu ser assim; E tendo por companhia, uma solidão sem fim;
Se não fui eu quem tornou em cinzas espalhadas ao mar;
À procura de qualquer mundo que me acolha e não me faça chorar...

Mas se você me amasse, eu nem me importaria;
Porque saberia voar e cantaria aos quatro cantos...
Sim, eu saberia voar!
Você seria capaz de decifrar meu olhar?
Você seria capaz de me amar?

Poema de Léia Carmona

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Plágio

As correntes marítimas
Enxugavam minhas lágrimas,
Mas o sangue, não.
Os navios sabiam...
Velas infladas
Feito mulheres grávidas,
Anunciavam minha dor.
Resolvi caminhar sobre as águas,
Distribuir pergaminhos engarrafados,
Culpar a falta de um grande amor!
As correntes marítimas sabiam,
Os navios sabiam...
Todos, indiferentes,
Anunciavam a minha dor.
Menos Tu.

Poema de Milton Filho

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Caminhos

Não é com brandura que se forja um espírito brando,
Mas à marreta.
Por isso, não chore.
Não implore.
Sê digno...
Suporta!
De onde me vens pedir que te indique o caminho, a outro cego?
Abre tu mesmo, teus próprios olhos,
E, vê!
Pouco se me dá, o quereres beber de minha e ou, outras poças.
Acaso, não sabes tu, da fonte?
Acaso, te foi negado o acesso?
Ou, és GRANDE demais, para a estreita passagem?
Encolhe-te!

Poema de Clara-Mei

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O dejeto

Ele flutua,
Causa asco,
Fede,
É humano? Não.
Ou sim.
Vai saber o que é este ser!

Mas, adubada as plantas,
Não ingerimos essa merda?


Poema de Milton Filho

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um pouco de muitas....




Um pouco de Frida Kahlo
Chacoalhando a vida
Plantando flores na avenida
Colhendo pó, dor e despedidas.

Um pouco de Pagú
Arteira, amante do interno
Moderno da revolução,
Revoltada interrogação?

Um pouco de Maria...
Várias Marias,
Parida com manias
Intérprete de mim mesma.

Um pouco cigana
Sem umbanda, sem nome...
Cheia de cores, com flores na saia
Girando, gingando, cantando...

Um pouco indecente
Singela criança
Carente com dentes
Urgente semente.

Assusto...
Chuto o pau da barraca
Não temo ninguém e a nada
Intensa, ansiosa, corajosa...
Quando erro, boto a cara, não nego!

Sou lembrança...
Esperada do destino...

Sou dedicada às vidas que a minha deu.
Sou barulho...
Quando pensativa e muda,
Culpo a lua, a xingo de puta.

Tantas se encaixam em mim
Tantas moram em mim...

Sou muitas,
Sou nada,
Sou estrela
Sou terra batida
Sou fera ferida
Sou abrigo
Sou o ódio
Sou o amor
Sou poeta!

Escrevo para não morrer de dor
Sou quem você quiser,
Sou quem eu quero ser.
O que bem sabia de mim,
Não está mais aqui, deixaram morrer!

Camila Senna


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dois poemas de Joelma Maia

Anunciação

E que haja sempre um bom vinho
Quando os pirilampos alucinados
Com o cair da tarde nesses beirais
E mergulhados em passiva devoção

Os amantes infiéis dos rigorosos invernos
Solidários cantam em seu mais grave tom
A canção dos aflitos. Benditos sonâmbulos!

Perdidos na boca da noite fria,
Essa aflita viúva desamparada
Que propaga a solidão dos véus

Imortal seja essa ponte passiva
Para tão espetaculosa anunciação!

Um minuto de silêncio

E escuta-se apenas o murmúrio
Das águas que descem
Para regar essas sementes
Agora jazem soterradas

E para selar esse momento
Ouvem-se apenas águas, águas...
Mares que brotam de tantos olhos
Que já mortos, ainda vêem!

Poemas de Joelma Maia

domingo, 6 de novembro de 2011

Homenagem a Carlos Drummond de Andrade no Novo Blog Comtexturas

A Carlos Drummond de Andrade

Nasceste de carne e osso.
E de tanto viver entre montanhas e respirar sobrados
adquiriste o ferro de tua cidade. Por muito tempo
não soubeste se teu corpo
tinha mais da matéria orgânica
ou da metálica.

A vida provinciana que ruminavas
em ruelas paradas e poeirentas
tua vida desafogada e escassa de boi resignado e inócuo
e até tua vida exposta cruamente nas livrarias
das pequenas e grandes cidades do país
habita hoje involuntariamente o dia a dia
de banhistas transeuntes taxistas
besuntada em bronze e azinhavre
perfumada de uma inalcançável maresia.

Os miúdos olhos boiando em complacência
mesmo quando alguém lhe rouba os preciosos óculos.
A cabeça francamente doada ao passeio das aves
e às primeiras gotas de chuva
do inverno de Copacabana.

Enfim o metal em ti prevaleceu.
Te veste essa nudez de ferro
que não se dissipa (de estanho e cobre
os teus pecados?). Mas mesmo imóvel e imortal
rígido e indissolúvel como um teorema
ainda pareces — ainda és — humano demais.

Poema de João Lima

Visite o meu blog, que acaba de ser reformulado!
www.comtexturas.blogspot.com

sábado, 5 de novembro de 2011

o indício

maria..

onde combinam estes adereços?
à lua enfileirada no céu(este-tão) obscuro..
à. lentidão destes lapsos de ar..


maria..

é este meu tombo que te compromete?
às minhas sub-visões em raptos/passos de criações-vís?
à condição e sub-humanidade, e
à prova de?


maria..

cortam-me os sonhos.
e a tua febre alivia esta lâmina-fria que deitarei em canto(carnívoro) de ti
à minha culpa. e ao crime de te querer mais(um pouco.)


maria..

versa-me aos ouvidos
deixa-me entre-cortado por uma véspera/moeda qualquer..
me revoluciona o sentido/exercido de vida
e alquebra-me: em-in.comum pátria/alienação..


maria..

Poema de Azke

crava a pele e não toca a alma...

vesti o único vestido sem alça
o mais bonito que já coloquei os olhos
como um barco noturno
rasgando as luas

parece até que tenho um pouco dele
desmanchado no sangue
solto como água
afogando-se em alma

eu lá mesmo com ele acho que morria
com um punhal nas costas
e um coração no peito
indo pra casa...

perdida no fundo do armário

Poema de Vânia Lopez

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Nuvem e o Fogo




Quando eu era menino
Queria ser bonzinho
Para poder andar sobre as nuvens
Até que um dia comi algodão-doce
E a vontade passou.

Quando eu era menino
Eu não queria ser mau
Pois tinha medo de arder no fogo
Até que um dia senti queimar no meu
O calor de outro corpo
E o medo passou.

Hoje, já adulto, tenho plena consciência
Nessa perplexidade caótica em que me movo
Da poderosa sensibilidade de minha essência
Que insiste em ser metade nuvem, metade fogo.

Marcio Rufino

Recado aos navegantes

- mensagem deixada numa garrafa

se teus olhos buscam apreender o leito
mas não possuem garras de estancar
e segue o corpo ao sabor dos remoinhos
ocupa-te de sobrenadar o éter
viver prescinde de todo o resto

Poema de Jorge Xerxes

www.jorgexerxes.wordpress.com

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Da feira de livros, trago Dostoiévski e Pessoa

Não há nada mais que me anime
melhor do que trazer comigo
um exemplar de Crime
e Castigo.

Ponho debaixo do travesseiro
este recreio q'me afeiçoa:
A obra Cancioneiro
de F. Pessoa.

Zelo como quem devota
ao seu labor inconcusso
a obra Idiota,
do russo.

Trago numa plástica sacola
esta grande literatura
que, se não evola,
cura.

Poema de Isaac Bugarim

nem aos olhos

se.
eu te descobrir(o que me encontro?)
se.
te fossem as luzes(o que mais/me guiaria?)
ontem, ou
passos? em fileiras e chuvas
(as)mesmas. das tuas insensatas poses.
onde?

registram-se ao arbítrio dolente
e
à prepotência(in-salva) de te vivenciar
fugaz..
um(pouco)?

e-o crime de ti..
onde?
culpa..
(onde?)









..



qual à revolta da carne.

à minha cama refrigerada
estaca de tantos aspectos
epístolas destes(intrépidos) épicos de cair
em
situação absurda
clemente
de repente
mas,

em verdade e por alguma exclusão..
por interesse relativo
por

insenção(coincidência..) e desapego:
teu nome, ainda é.


o tempo.todo(o-que te vale)
o outro esboço(ao que ainda nem previ)







..





mas,









mera-linha.
tola-frase(tentada)
passo-de: página(nada! de ti)
nem aqui:
ou ali.



ou:


ainda.este:
pecado-presente
e desdito e editado
é teu(este) conselho:



não.
(nem resposta)
não.
nem.refém..
(ou ali/ou além.)




























Poema de Azke

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lançamento do Livro "Nuvens" do Poeta Arnoldo Pimentel


      Uma vida é feita de muitos instantes. Em uma visão superficial tais instantes podem parecer corriqueiros, insignificantes e ou  ordinários. Todavia, olhares atentos os re-significam  e lidam com eles dispensando atenção merecida.
Em Nuvens, Arnoldo Pimentel nos convida a apreciação das belas  imagens de instantes simples.  Ele se torna o anfitrião que nos leva da escolha da camisa ao passeio no Leblon.
Aquele que se atenta à beleza da simplicidade, nos leva a questionar sobre a importância dos instantes, sobre o que o efêmero representa em nossa existência. O poeta nos aconselha que apesar da fugacidade do instante, ele é o que torna o que somos, o que vemos e apreciamos. Não atentar-se a isso é evaporar-se na areia, é desejar partir da vida só para não sentir dor.

 Rosilene Jorge dos Ramos

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Quarenta motivos para te amar

O dia amanheceu frio e chuvoso, apesar de plena a primavera. Tomei o meu carro, segui
pela estrada sinuosa, através da paisagem bucólica, o verde vivo a eclipsar a cor cinza do céu, cercavam-me os montes aqui e acolá, com a estrada a desvencilhar-se deles, em vã tentativa.

Um caminhão lento a minha frente carregava folhas secas como se estas fossem barras
de ouro, leves como penas, a circunscreverem fluidos remoinhos no ar, espalhavam a bondade dessa riqueza aos mais pobres – provavelmente ele chegaria vazio ao seu destino. Imaginava que não houvesse nada tão triste quanto à faixa dupla, contínua, amarela: não ultrapasse!

Foi quando me apercebi de uma árvore a captar, inerte, a lúgubre paisagem. Encerrada
ao silêncio de seu tronco, acenando lenços vivos de folhas verdes, intensas, sabe-se lá por que, através dos seus múltiplos ramos, quantos são os braços de Vishnu. E aquilo me deu um aperto no peito, que é como deve se sentir o velho poeta, sem inspiração já há quase um mês.

Quando isso acontece, é comum achar que o mundo se parece mesmo com o branco e o
preto dos jornais, numa sucessão das mesmas coisas, que as pessoas não vão mudar, que a poesia não tem sentido, que ninguém quer saber da luz dos vagalumes, ou do rastro de uma estrela cadente. Acredito: estão todos enganados. Posso provar isso enquanto sopro o dente-de-leão. Mas a minha certeza é efêmera, num segundo, ela desvanece.

Então me dei conta de que hoje é segunda-feira, que estou indo para o trabalho. Só pode ser isso, como naquela seqüência de caricaturas de um carinha com os dias da semana anotados embaixo; porque entendi que ela vai melhorando, à medida que os dias passam. E eu não posso ficar parado.

Há tanta coisa por fazer, para te dizer, dessas coisas urgentes, como uma nuvem, samba num boteco em dia de chuva ou quanto aos poderes afrodisíacos dos bigodes de um gato. Hoje percebi que precisarei ficar até mais tarde, que precisarei fazer serão do fim de semana. Dou um cavalo de pau na pista, a poeira sobe, os motoristas se assustam, metem a mão na buzina. Acho que quase os despertei.

Agora me lembro da noite de ontem: enquanto eu e você estávamos acordados, todos os
outros dormiam.

estrada sinuosa
o coração
aquele verde insuportável
a cor amarela
a cor vermelha
montes aqui e acolá
barras de ouro leves como penas
remoinhos no ar
diamantes comestíveis
a bondade
pernas longas de um grilo
a riqueza
as guelras de um peixe
a inspiração
cartas de baralho
o destino
lenços vivos
folhas imensas
bolinhas de sabão
um poema sem sentido
vagalumes indicando o caminho
tronco de uma árvore
o longo rastro da estrela cadente
nuvem
uma certeza efêmera
dente-de-leão
os bigodes de um gato
a eterna dúvida
samba num boteco em dia de chuva
esticar o fim de semana
cavalo de pau na pista
muita poeira
e mão na buzina
o mar
o sol
uma paisagem bucólica
rede de descansar
um barco distante
vaga lembrança
o movimento dos braços de Vishnu

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Conto de Jorge Xerxes