Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sou-te sereia senhor, mas não me vês...

Sou-te sereia senhor, mistério incontroverso,
exibo-me quimera, arranco-te queixumes.
Ao embalo deste mar – fullgás – sou teu reverso,
a dor que não se esconde – um verso em mil perfumes.

Revelo-te em meu corpo as vidas do Universo,
beleza transcendente, arfar de vis ciúmes.
Ao embalo deste mar – fugaz – um corpo emerso,
resvalo ao teu olhar – não brilhas aos meus lumes.

E canto e canto e canto! Excelso e ardente ai!
Rastejo ao teu mistério e louca em ti delinquo
ao verso, numa estrofe, em mim tudo se esvai!

De que valho em paixão? Em ti nem sou sagrada!
Ao vento do arrebol meu canto tão longinquo
é sonho, é ária, é luz, é sombra, é dor, é nada...

Soneto de Sílvia Mota

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Lucidez Seixas

A Zílio

Edith-se:
O Profeta embriagado
De Len(d)a, Tânia e Glória...
Correu atrás da Historia,
Como o vaqueiro do gado.

Jogou o jogo dos ratos,
Bebeu da Vida os Mistérios,
Voou p’ros mundos etéreos...
Curtiu um milhão de baratos.

E assim...
Kika’ndo entre as esferas,
Num nonsense profundo...

Foi-se a desvendar outros mundos,
Haver-se em novas quimeras...
Vestir-se de querubim.


Poema de Lázaro Ben Hashem.

Carta-Testamento da grande atriz Cacilda Becker




“Viver é conquistar. Não se pode viver em estado de contemplação. Viver é ir ao encontro. Tudo está a nossa espera. É uma questão de coragem e amor.”

“O meio do teatro é um meio como qualquer outro. Existem brigas, discussões, invejas, tudo motivado por falta de estabilidade. Mantenho, no entanto, relações cordiais com meus colegas.”

“Tenho poucos amigos, por uma questão mais de temperamento, pois costumo entregar-me integralmente a muita pouca gente. Sou, por natureza, de feitio ‘mandão’, franco, aberto. Meus ódios e meus amores são declarados. Não tenho tempo para perder com hipocrisias inúteis.”

“Tenho trabalhado muito, demais, quem sabe? Quase não vejo o sol. Principalmente o pôr-do-sol. Sinto tanto. De todas as horas do dia, é essa a que mais se instala em mim. Sempre foi assim, desde pequenina, muito pequenina. É uma sensação de saudade (quem sabe?), um estado coerente com tudo aquilo que a minha natureza sempre ansiou, ir além, além das coisas e de tudo, perder-se.”



“Quando quero, quero. Quero de fato. E vou buscar. Não espero nada de ninguém com relação as coisas materiais, é claro. Tenho confiança cega em mim, apesar das insuficiências toco tudo para a frente. Sempre fui assim.”

“Não quero ser sempre mero instrumento do autor, mas a própria obra, vivendo também momentos de plenitude.”



“De cada personagem que representei guardei uma ‘descoberta’ para mim, de mim mesma.”



“Não quero negar as qualidades ‘terapêuticas’ do teatro ou de qualquer arte, mas, como tenho horror a meias-verdades, devo confessar o que a mim me parece à verdade inteira. Todo conhecimento cultural ou artístico, toda experiência de vida, filtrados num caráter positivo trazem benefícios para o ser humano. A soma de tudo isso - arte, cultura e vida, deveria obrigatoriamente melhorar qualquer homem.”

“Nasci forte, e desde o dia em que a vida me ensinou a não ter mais medo dos homens e dela mesma, acho que comecei a melhorar como ser humano e como atriz.”



“Minhas insatisfações, minhas angústias, esta fé em meio ao caos foram coisas vitais para a minha arte. Essas coisas fazem os poetas, as atrizes, os devassos e as prostitutas.”


“Tenho um caráter voluntarioso, temerário, perigoso mesmo, porque me faltam as medidas. Vou da extrema generosidade ao mais absoluto egoísmo. Resta-me a esperança de que com o tempo (que já não é muito grande para esse fim), adquira sabedoria.”

“Sei que terei vivido a vida integralmente. Rezo todas as noites antes de dormir. Peço a Deus que não me falte uma consciência alerta e não perca um instante, porque a vida é pequena.”

“A vida é um jogo maravilhoso e Deus nosso parceiro. O que me importa não é o tempo que vou ficar em cena, são aqueles que eu amo.”



“Quando chegar a minha hora, eu vos direi, meu Deus, fiz tudo que podia, me esforcei, não me entreguei a ninguém. A vida não me fez medo, aceitei as condições. Sofri bastante, chorei muito. Feliz não sei se fui, porque não tive tempo de saber. Dei-me inteiramente a tudo. Neguei-me completamente aos que repudiava. Vivi a minha natureza em toda a plenitude.”

Cacilda Becker

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Notícias por e-mail

Queres saber de mim, esta mulher fugaz,
insana insensatez a gargalhar em vão,
reclamo de prazer, que em eco liquefaz,
eufórbio envenenado, às lavas de vulcão?

Queres saber de mim, esta mulher loquaz,
angústia a se perder ao vento e à erosão,
suspiro e anseio vil, que em choro se perfaz,
vestido a esfrangalhar, sem cor no coração?

Se queres, vais saber. Sou dor e sou tormento!
Trafego em luto meu, sou poço artesiano,
revelo na saudade, um chafariz barrento!

Se queres, vais saber. Não tenho outro Universo!
Envio neste e-mail, anexo profano,
o tudo que possuo, um quase nada: eu-verso!

Soneto de Sílvia Mota

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A ti, Maiakóvski

Não há rimas portuguesas para teu nome.
Teu nome que ecoa de tuas vértebras,
e é amarelo como tua camisa.

Componho-te entre os dias que te leio,
no veludo da minha pequenice,
no meu crânio erguido ao povo russo.

O teu amarelo não é antepassado
e tua fala cotidiana inexprimível
é a que melhor traduz o meu século.

Tomo como meu o teu futurismo terrível,
celebrante de Lênin, Iessiênin e de Lila,
tendo a forma poética de uma pólvora.

A tua rima hiperbólica e desmensurada,
par do teu coro retumbante e claro,
aplaudiu o retro levante do teu povo.

No futuro que tu poemaste outrora
ficou o meu passado reminiscente,
de quem te vestiu, te tocou, te ouviu.

Foste um russo adventício, uno e veemente,
cuja leitura não me basta - não me é suficiente! -,
lê-lo tão só por lê-lo e só lê-lo.

Leio-te trajando uma camisa amarela,
tocando Tchaikovsky numa flauta vértebra,
costurando com veludo a tudo e a todos.

Poema de Isaac Bugarim

domingo, 21 de agosto de 2011

Eu, mulher!

Tantas obrigações diárias
E tantas variantes de
Mim mesma, que as vezes
Torno-me pequena
Não me cabem!
(preciso de espaço)
Respirar! Respirar!
Tamanho cansaço
Dissimulado por um
Lindo batom, avermelhado
E um salto alto
(é como um colt 44)
E, estou pronta para
Matar!
Ser multifuncional, altera
a minha função hormonal
e, como toda fêmea
(felina, viro ferina)
E saiam da minha frente
Vou passar!
Algum corajoso
Quer enfrentar?


Poema de Sandra Soares

sábado, 20 de agosto de 2011

11 meses, 19 dias e muitas horas de vida!

Celebremos a vida!
Agora têm graça todas as cartas de amor ridículas.
E essas coisas ridículas que todo mundo diz
quando diz que ama.

A lama da UFAL, os braços me abraçando,
O frio, a falta de luz,
O creme no cabelo,
Pipoca e ônibus,
Banana com Catchup, pirulito,
Roupa molhada, corda,
Suor e beijo, tupolevs,
Formigas chatas,
Sombras móveis e nuvens rápidas,
Confissões, caretas bestas,
Chuvas e fotos, tu ia's, sextas,
Questionários, incesto no Teatro,
Saudades sem net, praia e repentista,
Unhas e conceitos, músicas e batom,
Seqüestros e prêmios, saias e Black Sabbath,
03 de julho's, datas do ano todo,
Chicletes e desenhos,
comunidades e mordidas – despedidas,
Cartas e São João, Parque de diversão e Legião Urbana,
Panfletos e timidez, Filosofia e Política,
Enquetes, sábados e domingos, tiroteios e declarações,
Celular e jurubebas na estrada, filmes e filmes,
Etc's e etc's, Reitoria e D.R.,
Tapioca e impressora,
Buraco e Xadrez,
Slides e eleições,
Morango e basquete,
Dããã's e provocações,
Surpresas de 18 anos,
Sapos... Ah, os sapos...

Conquistei-a, com minha teia.
Minha teimosia de querê-la – com querelas.
- Bozó.
Somos um só, um sol, um nó na garganta dos outros
que não sabem amar.

Não há casal como nós, nem terá e nunca terá existido,
porque o nosso cupido
morreu de felicidade
ao vê-la em nós. O nosso cupido não existe mais!
E a todos os casais
que o queriam conhecer: morram de inveja e de desgosto.
Porque, de felicidade, será nossa morte.
E, quem dera, a sorte de morrermos
como vivemos e viveremos: juntos.

Nós somos a terminologia dos amantes,
das invariantes da língua – que língua a que beijo!
11 meses e 19 dias da mais pura vida.

Poema de Isaac Buagrim

Como as coisas mudam


E tudo mudou...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib,
Que virou silicone

A peruca virou aplique,
interlace,
megahair,
alongamento
A escova virou chapinha
'Problemas de moça' viraram TPM
Confete virou MMA
Crise de nervos virou estresse

A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou musse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou BabalooO
A-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3

É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do 'não' não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico

Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou Counter Strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,Cássia e Cazuza,Lennon e Elvis,
Todos anjosAgora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante

O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz......
De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.

(Luiz Fernando Veríssimo) 



Afrodite

Teu corpo de Afrodite incidental,
Nascido entre os escombros do meu dia,
Me surge enquanto dispo-me da cal
Das horas consumidas sem valia.

Teu corpo, epifania conjugal,
Sigilo e afago após a bizarria
Que me aflige tornando mais brutal
A mão que à noite busca-te erradia.

Refúgio de quem vive em meio às feras
De todos os banidos das esferas,
Dos anjos, prometeus e satanás

Que agora gozam, amam e trabalham
Na luta pelo pouco que amealham,
Afã com que teu corpo se compraz.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Marca de Pagu....


Musa do modernismo


Musa do modernismo e militante de causas sociais, Patrícia Galvão conquistou espaço na memória política e cultural do Brasil


A biografia de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, causa encanto em leitores e estudiosos pela sua intensidade. Desde o dia em que se entendeu por gente, nos seus 52 anos de vida, impôs a si mesma o dever de mudar o mundo. E não poupou esforços para isso. Foi ousada, corajosa, moderna e, sobretudo, humanista, desde antes de acertar o foco social e político de suas lutas. Mas, depois disso, enveredou por um caminho que jamais teria volta. "[Pagu] Procurava pessoas e causas autênticas", afirma o professor K. David Jackson, da Universidade de Yale, especialista em literatura de língua portuguesa e, sobretudo, na obra da militante e artista brasileira, no prefácio do livro Paixão Pagu - A Autobiografia Precoce de Patrícia Galvão (Editora Agir, 2005). "Aquela que encontrou primeiro, inesperadamente, foi a questão social e o ativismo político, mas demorou para sentir um interesse vital. Tampouco achava interessante no começo a política radical." A mudança de opinião se deu após ter passado alguns dias com o líder comunista Luís Carlos Prestes (veja boxe Passagens da Vida Privada). O encontro aconteceu em 1931, em Montevidéu, no Uruguai, e a ligação com o Partido Comunista durou sete anos. "A pureza do caminho de Patrícia logo se mostrou incompatível com a ação partidária que escolhera", explica Jackson, em Paixão Pagu. "Ia acabar sendo expulsa [do patido] em 1938, mas não antes de tentar provar a sua proletarização, inclusive com o romance Parque Industrial, de 1931. Ninguém ainda havia feito literatura nesse gênero." A obra é considerada um dos pontos altos da trajetória de Pagu e, por exigência do Partido Comunista, saiu sob o pseudônimo de Mara Lobo. "Nesse romance proletário, ela coloca suas idéias a favor de um povo sofrido e combate uma burguesia intolerante e inconsciente", diz a jornalista e crítica literária Leda Rita Cintra, curadora de Pagu, Vida e Paixão, evento em homenagem à autora que segue em cartaz até 16 de julho, no Sesc Santana (veja boxe Álbum de Fotos).


Completude
Pagu nasceu em 1910, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, mas passou a infância no Brás, bairro da região central paulistana. Na adolescência já chamava a atenção por sua personalidade forte. Poucos anos mais tarde, levada pelo poeta Raul Bopp, Pagu aproximou-se do grupo de intelectuais paulistanos que encabeçaram o movimento modernista brasileiro. Foi quando teve o primeiro contato com a pintora Tarsila do Amaral e o escritor Oswald de Andrade (veja boxe Passagens da Vida Privada). Sua luta contra a ditadura de Getúlio Vargas, iniciada na década de 30 quando tinha apenas 21 anos, foi dura e tortuosa, pontuada por prisões - mais de 20 - e torturas. "Ela sempre sonhou entregar-se totalmente, sem limites, até a aniquilação, ao amor, a uma causa, à vida e até à própria morte", afirma a professora Lúcia Maria Teixeira Furlani, autora de Pagu - Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo (Editora Unisanta, 5ª edição, 1999). "Procurava, freneticamente, o que lhe faltava, a completude que todos perdemos e pela qual ansiamos, esse era seu traço mais marcante. Além de seu olhar sensível, antecipatório e antenado na cultura, na política e no comportamento", ressalta a professora, estudiosa do tema há 18 anos.



Apesar de marcante, a atividade política não foi a única causa de Pagu. Não é possível dissociar sua vida da importância que teve para as artes e a cultura, por exemplo. "Ela foi jornalista, crítica de letras, artes, televisão e teatro, poeta-desenhista, romancista, incentivadora cultural, mulher precursora e revolucionária", lista Lúcia Maria. "Soube também ser dissidente política, quando rompe com o Partido Comunista e volta a ser apenas Patrícia, defendendo um socialismo libertário, pacífico, democrático e espiritualista." Para Geraldo Galvão Ferraz, filho do segundo casamento de Pagu, ela foi, sobretudo, alguém com uma vida que fez diferença. "Desde o exemplo de rebeldia e irreverência da adolescência ao engajamento no tempo modernista para, em seguida, começar seu envolvimento político. E, enfim, no importante papel de divulgadora das vanguardas estéticas dos anos 40 e 50." Para Leda Rita Cintra, curadora do evento do Sesc, sua maior importância cultural - "que permanece até hoje", ressalta - foi a apresentação ao Brasil de nomes como o do autor espanhol Fernando Arrabal. "Ela o traduziu e o colocou em cena pela primeira vez no país, com a peça Fando e Lis." Outras participações fundamentais se deram nos jornais O Homem do Povo e A Mulher do Povo, criados em 1931 por Pagu e seu primeiro marido, o escritor Oswald de Andrade. "Naquele contexto, representaram uma rebeldia política máxima contra o governo de Getúlio Vargas", afirma Leda.

E ainda havia a maternidade. Com o primeiro filho, Rudá de Andrade, do casamento com Oswald, teve uma relação que durante muito tempo foi conturbada pela militância política. Com o segundo, Geraldo Galvão Ferraz, da união com o jornalista Geraldo Ferraz, foi uma mãe presente, de acordo com ele próprio. "Minha mãe era um tanto superprotetora, mas também muito carinhosa. Era uma mãe como qualquer outra, apenas com horários diferentes dos das mães dos meus amigos. Ela trabalhava bastante em casa, sempre na máquina de escrever. Mas sabia tirar seu tempo para uma brincadeira comigo, para um gim-tônica e um cigarro", lembra ele.

 

4 orgasmos

-Palato

no céu
que a minha língua
reflete
há um banquete
de estrelas
e de glórias

no céu
que a minha boca acolhe
há o teu alcance
sexual

é um poço
de líquidos

-Anatomia

Jazi
no buraco
do seu umbigo

o meu inimigo
é as suas curvas

gosto do reto

-A dança

Sou sua
Não sou seu
Minha alma
Feminina floresceu

Dou-me
Como num balé
De Maria
E José

-Deifico

Apoteose
me goze
me goze

tome uma dose
de mim

faça pose
de jasmin

no fim

Poema de Isaac Bugarim

Três anos de muito Pó de Poesia....



Bolo dos três anos do Grupo Cultural da Baixada Fluminense (((   PÓ DE POESIA  )))  Um Salve!


 É big, é big, é big é big é big.. rs






 Fulaninha Ana Júlia.. Ela também é poeta. rs









 Só Fulanas de Tal... Viva!







 Márcio Rufino, Divino.





 Ivone sempre Landim... Linda.



Sempre pra cima...



Ele me viu pequena... rs







sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Apologia da poesia

A Poesia é a minha primeira esposa
Eu não sou bom de prosa
Há uma pérola no casulo da mariposa
Eu não sou bom de prosa
Depois de um dia de cão banho e tosa
Eu não sou bom de prosa
Meu fracasso deixa minha família orgulhosa
Eu não sou bom de prosa
Pelo conjunto da obra menção horrorosa
Eu não sou bom de prosa
O cravo brigou com a rosa é a rosa é a rosa
Eu não sou bom de prosa
Mas que coisa ruim mais gostosa
Eu não sou bom de prosa
Nobel de 2010 Mario Vargas Llosa
Eu não sou bom de prosa
Agora é a hora do mote e da glosa
Eu não sou bom de prosa
Menina moça com poeta fica toda prosa
Eu não sou bom de prosa

Eu
Espectador de
Entrevistas de
Escritores
Espectros
Expectorantes

Fora o que está expresso em versos
Não tenho mais nada a dizer
Confesso
Não temo
Peixe grande morre pela boca
O escritor confunde literatura com falação
Senhor de si
Ser dominante em todos os assuntos
Abarca o mundo e outros mundos
Arrota uma simplicidade complexa
Esbanja erudição e simpatia
Parece um padre porco ou um político poltrão
Tentando angariar mais fiéis e mais e mais eleitores entre os fiéis eleitores
Nada a declarar
E tenho dito

Poema de Andri Carvão

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Este lado para cima

não se deixe enganar caro leitor,

para ler este poema é necessário
CUIDADO
muito cuidado

sua arquitetura branca e
FRÁGIL
pode não impressionar no princípio

afinal, para compreendê-lo a fundo é preciso
familiaridade e um manual prático
para interpretação de tipos

porque nem toda surpresa vem embrulhada
em papel de presente

nem toda surpresa
inclui pilhas

nem toda surpresa
chega lacrada com um
cartão: de: para:

que nem todo entregador não
consiga violá-la

porque o poema, caro leitor,
é um eterno convite

conteúdo que cabe
numa embalagem que se abre

Poema de Caio Carmacho

domingo, 7 de agosto de 2011

Negro Éden



Da floresta negra ao redor de mim
Só vejo a penumbra de uma luz vazia
Só sinto o calor gelado de um serafim
Só canto o que restou de uma vida luzidia
Há vultos que perambulam cabisbaixos
Pisando em galhos secos emaranhados.

Estrelas dançando um balé mórbido
Cinzentas nuvens vagando imponentes
A fauna se agitando num grito sórdido
A flora se erguendo, seguindo em frente.
Há rios vermelhos de groselha e de sangue
Há margens sinistras de areia e de mangue.

O azul-marinho desse intenso céu
paira lento no ar sedutor
Que rasga seu estranho e denso véu
Numa fracassada tentativa de sufocar seu fulgor.
Frutos que não alimentam, mas matam a fome
Sementes que não brotam, mas erguem um homem.

A folha seca é a roupa nua
O caroço carcomido é o alimento minguado
Ah quem dera ver tua carne crua
Ser violada por um pensamento alado.
Gozo que te jogue no inferno
Sofrimento que te erga ao paraíso eterno.

Mundo orgulhoso por vencer o bem e o mal
De servir e de se negar a toda essa gente
Que supera o sabor insípido do açúcar e do sal
Mundo livre; protegido de Deus e da serpente.
Ambiente puro por reconhecer sua perversão
Ambiente resolvido por assumir sua questão.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
Imagem: Foto de Christian Cravo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Movediças em interiores da casa

brutas são as horas
um vulcão em temperamento
saindo dos ponteiros
roçando pela última ceia da mesa
nas contas a pagar
mistura ovo e bife no prato
alterna momentos raspando o azulejo
esticando a noite como um bárbaro
(repara por dentro)
na boca cheia da vontade de lhe ver
passeiam pelo quarto para testar a alma

de ainda me procurar
no horizonte dos seus olhos...

Poema de Vânia Lopez

Maria ninguém...


Sou uma boneca retalhada de chita,
Triste e colorida.
Não me faço de vítima,
Quando erro boto a cara, não nego.
Sou uma criatura carente com dentes...
Sou uma abandonada de pai,
Uma alma perturbada o tirou de mim,
Foi precoce a perda, como tudo na minha danada vida. 

Uma jovem que tem pinta de doida,
Mas é responsável com aquilo que semeou.
Uma garotinha que sonha acordada tentando fazer do amor um conto de fadas.
Tenho certeza, o amor existe!
Fadas?
- Na minha vida, só a da minhas costas, a mesma é tatuada, talvez por querer tanto ser uma. 

Uma poeta sem batismo
Que escreve o que lhe vem à mente...
Com palavras e alguns palavrões...
Umas inocentes, outras indecentes.
Aquela que nunca imaginou em ser poeta, que sonhava em ser bailarina e cantora. 

A poesia me escolheu, fui pega pela mão a andarilhar por meu passado, presente e devanear por meu futuro.
No início, poesia tímida sem muitas palavras, rimas medrosas.
Hoje, o barulho do meu mundo interno nu, sem querer saber da aprovação do mundo.
Confesso que sou explosão!...
Escrever e procurar me entender fez bem ao meu jeito,
Fez bem ao meu coração. 

Sou uma alegria em vida,
Mas quando deprimida, perco o ritmo, deixo cair no chão meu semblante...
Esqueço minha essência, me vejo num motim, dou de cara com a morte,
Minha casa vira uma espelunca,
A lua vira puta,
O passado, triste e errante,
Os amores, todos fracassados,
O presente, precipitado.
Fico louca por uns dias... No decorrer vou varrendo toda a rua do meu coração, recolho lixo por lixo....
Tentando deixar fluir a beleza dos sentimentos bons. 

Uma menina que na infância
Teve tudo para ter uma estrutura familiar...
Mas não teve!
Tive que traçar e escolher quem eu queria ser...
Tive que me reinventar para não ficar na margem de lá,
Margem dos fracassados, viciados...
Com o futuro ameaçado.
Corri do mal, chorei todo o inferno astral, passei o pão que o diabo pisou.
A única coisa boa que eu via eram as estrelas...
Quando chorosa corria para laje para chorar todas as minhas lágrimas...
Deixando as estrelas me ninar, me acalmar.

Uma mulher que não cansa de ser mulher,
Mas que entende que para ser mulher
É necessário ser forte, sagaz, intrépida.
Entende que esse mundo vagabundo é uma selva
De animais racionais gemendo por dentro, querendo seu lamento.
Entende que nem tudo é véu, flores na janela, lua-de-mel, primavera...
Muitas coisas são crueis...
Viver a dois sem sintonia,
Viver só sem melodia,
O ser humano e seus sentimentos mesquinhos,
Morrer sem ter visto de perto a cara da gostosa alegria...
Virando cinzas e nada. 

Derramarei então todo meu pó de poesia nas entrelinhas dos meus poemas...
E que se dane a teoria,
E que se dane a opinião dos que me detestam, não fico puta, não fico virgem, não fico nada!
Falo o que quero na hora certa ou na hora errada.
Não ganho nada, mas também não perco.
Sobrevivo nesse mundo de palhaços sofridos, onde muitas das vezes me vejo... 

Sou generosa, sonhadora, persistente, e quando sobra tempo, atraente.
Mãe de filhos que ergueram minha vida solo e vazia.
Uma mortal que tem horror à rotina,
Uma esquisita que se coça toda só de pensar em conversar com pessoas explicadinhas em demasia.
Uma humana cheia de defeitos, mas que não suporta hipocrisia. 

Regras não rimam com a minha vida.
Quando faço uma receita, nada é medido; no final, tudo sai gostoso, apetitoso.
Tenho algumas roupas que eu mesma corto e refaço.
Saio despojada, de boina, de tênis, sem pensar em nada.
Mas tem dias que a vaidade me condena, me visto como princesa...
Princesa sem eira, nem beira, sem castelo, sem cavalo, só com meu sorriso largo. 

Quem sou eu?
Uma imediatista que não curte saber da meteorologia e nem dos próximos dias.
Uma tatuada na vida, oito externas e várias internas (rs).
Sofro de insônia e sou viciada em café.
Adoro correr na chuva,
Sentir e receber amor...
Janeiro e fevereiro são meus meses preferidos...
Levo minha vida retalhada e colorida sem muito roteiro.
Penso que a paz é o melhor presente que alguém possui no seu âmago. Desejo-a tanto...
Quem sou eu?
Ah, só mais uma Maria ninguém para esse mundo de tantos gostos, rostos, olhares, pensamentos e tal.


Camila Senna