Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 30 de abril de 2011

Habeas corpus

loucos loucos loucos loucos
loucos e santos são os erros
mil janelas vagas
e um coração partido

loucos loucos loucos loucos
conquistados pelo arame farpado
iludindo o passado
falando dos seus amores
(insaciável como uma garrafa de Whisky)

falamos de nossas torneiras
choro despido
chuva da noite iluminando as lâmpadas

loucos loucos loucos loucos
se escondendo dentro das roupas íntimas
procurando a melhor forma
de pular do telhado
(o purgatório é o peito)

sai para dentro
deixa a palavra de cabeça pra baixo
em rajadas de poesia
pela janela fechada...
(erros são Serafins)

Poema de Vânia Lopez

Só com você....



SENNA

Andei só entre uma rua e outra
Entre um beco e várias pessoas,
Mas sempre sozinha...
Com meu coração sem rédea. 
Andei só, perdi meu pergaminho,
Vi-me por entre espinhos,
Lidando com mesquinhos,
Bebendo vinho da inglória. 

 
Andei só, vi tanta busca infeliz, 
Vi minha vida morrer por um triz,
Sem saída, sem sorte,
Buscando meu norte e tendo que ser forte. 

 
Andei só, entre a marginal e o litoral...
Anelando o natural,
Querendo dar de face com um coração emoção.
Querendo o carinho doce feito rio, desejando o beijo salgado feito o mar. 

 
Andei só...
Por algum tempo!...
Aprendi que não tem dor nem lamento, tudo tem hora e tempo.
Quando você surgiu, resgatou-me do mar revolto que eu iria afundar-me
- E não andei mas só, mas só com você!


((( Camila Senna )))



Cadê o amor?


 Você viu o amor por aí?
O amor que Deus nos ensinou.
Tenho procurado nas pessoas
Tenho revistado os lugares, e....

Está tudo muito frio
A chama está se apagando
As pessoas estão se entregando...
Ao rancor... Ao ódio consumidor.

Vermes famintos estão corroendo
A mente dos fracos e oprimidos
Liga-se o rádio, só trajédia...
Liga-se a tv, só trajédia.

É filho que mata pai
É mãe matando filho
É possesso vingando-se e atirando
Cadê o amor?

Acordo assustada
Durmo pesada
Fico pensando preocupada...
O que será da vida amanhã?

Exclamo de novo!!!
Cadê o amor?
Aquele, que Deus nos confiou
Cadê?

Onde foi parar?
Se alguém achar...
Por favor!...Guarde-o...
Com sete chaves para sujeito nenhum roubar!

 O meu amor está aqui!!!
Estou matendo-o bem.
Oro pedindo a Deus
Que ele nunca suma de mim!


((( Camila Senna )))
 
 
 

O descrente

o. livro.
a. lista.
em. libido.
à. libra

é:
linha-pendente.
(frente.)

da.
caça-carta (e)dessa liberdade
ou.
peça-devoção
(é: área.)
expansão.
pacto de sonhos im.presentes
o conflito
a vénia
carta-gesto, sonho-vago
pó.
desuso
por.
causa-cela
a mente.. por abstenção
o.não.
a. falha..
da febre
que me serve,
à página-sentinela
qual marca d’água(dela) sob à mesa
(e, lá.sempre..)
presa.
da pressão inteira sob à ferida
(minha.)
sina.
parte da parte.
ou
acima da cura
ou
abate.
(e. incertezas.)
por uma linha-rapina de vida
quando em
prece..
ida.
quando ferve,
é..
caída.
- oh, seja..
tela em falha nos lábios por não-inserção
meu.nada-fim
o.meu: não.
em.
continuo acto-gasto
- oh, seja..
à letra.
em.traço
algo/algo
ou.tempo,
ou.gasto
ou.não.
frase da parte sem área-reclusa
lacre.
dos palcos traduzidos
aos
ensaios alheios que te precisei
aos poucos lados de mim
leve
tão leve assim
tropo-asa em declínio.
raso
o.
acto do crime
caso,
este.
fogo-e-facto sem prévias de lei
ou ar
a deixar..
soslaio e cego, tão perto: por alento..
vertido
crivo
qual à estaca pendente por um laço sede-e-preferido
ora, quente
ora,
sopro, solto.e, frio..
o.meu
tempo deixado aqui na terra
a.minha
luta perdida no teu posto-livro
lá,
d'onde em outras vestes,
à quimera sem um erro pouco-previsto,
(ou desejo/ou risco)
eu tolo, um caminho, te planejei.
e,
jaz.aqui..
a minha trilha, sendo lua
tua.
e parte..
da parte que me chama
às causas insanas de mente e anseio
é letra.
é esta.
lenda/vénia ou marca que me queima
ora,
apenas,
é
cena..
imagem-senda à nudez-puta por um grito antes de (me/te)desaparecer, e..

cá.
e
vivo,
me mantém, também.





à véspera desse sol,

desse sol..



e,
sim.



Poema de Azke.

TOQUES


Quero você com todos os anseios
Todas as promessas
Feitas no parque
De amor eterno

Todas as horas que nos envolveram
Nossos beijos
Nossos toques ao luar

Quero seus carinhos
Que me sufocam
Atrás da porta

Em qualquer lugar lhe beijar
Despir seu corpo
Num amasso louco

Quero cobrir-me
Com seus desejos
Suas delícias saborear
Até a lua se deitar

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Desabafo

Não guardo comigo o que não é meu,
Devolvo. Não pago o que não devo.
Não calo e rejeito o fariseu.

Talvez a procura de um museu
Desfaça esse triste desenredo,
Roteiros não faltam no liceu.

Na busca de amor sem Romeu,
Tampouco Julieta de arremedo
Seguindo perdida em meio ao mussiú.

De instinto femínio e não proteu,
Sincera, não nego o que sou e zelo
Ao expor-me aos abraços de Morfeu.


Poema de Yayá

Párias

Acendes a fogueira
Que não é a bem faceira
De roda e de brincar,
De festa e São João
Mas gélida de agosto,
De ser todo em desgosto
Acesa pra espantar
Baratas e friagem,
Sob hirta e fria laje,
Sob hirta e fria noite
Escassa, de estiagem.
Tão fria que arrepio
Provoca qual açoite
De látego no corpo
Baldio, correntio,
Na trágica orfandade
Dos párias da cidade,
Escravos sem senzala.
Entanto tal fogueira
Dos sem eira nem beira,
De restos que tu catas
De esquinas e lixeiras,
Dissipa chama rala
Que pouca força tem
Ao frio secular
Que vem de tropical
Cidade americana
Enfim subjugar,
Enfim de ti afastar
Os ratos que também
Te correm pelos pés.
Contigo todos comem
Semelhos a novo homem
Que rói a velha lápide
Decrépita e ancestral
Que afunda em lamaçal.
E sob rija laje,
Concreto cru de ultraje,
Se esfria até a vontade
Da pobre mão pedinte,
De ser tornado helminte,
Esmolas suplicar –
Terrível condição,
Gravosa de aleijão,
Que além desta matéria
Te inflige a vil miséria.
Dormir é o que tu queres,
Dormir para esqueceres
A frágil noite e seres
Que habitam estes pântanos
De sapos e elefantes
Comendo a cria infante
Com molho de alcaparras
Em meio a loucas farras,
Enquanto tu escarras
Um rio intolerante
Aos pés de nossas casas.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sinais de fumaça

Eu estou falando com você
Cale-se
Escute
Eu estou falando com você
Ouça
Cale a boca
Eu estou falando com você
Silêncio
Fecha a matraca
Eu estou falando com você
Quieto
Dá um tempo
Eu estou falando com você
Quando um burro fala
Fecha o bico
Eu estou falando com você
Você é surdo?
Esqueça
Não falo mais com você

Meu amigo imaginário não tem um pingo de imaginação.
Meu amigo imaginário: você não existe.

Poema de Andri Carvão

Mulher-Hiena




Linda, louca, livre.
Intensa, híbrida, simples.
Foi mordida por uma hiena
Numa véspera de carnaval.
Recebeu uma alegre maldição serena
Que perdurou nos quatro dias de bacanal.

Da Baixada Fluminense
Já ouvia o ronco da cuíca
Que vinha da apoteose
Seus quadris e suas sapatilhas
Criavam vida própria
Numa hipnose.

Ao som do pandeiro e do reco-reco
Balança as ancas feito um boneco
Juntam-se a sua volta
Sambistas, mulheres, gays, crianças e velhos
Entre cerveja, churrasco e batucada
Envolve a todos com seu rebolado
E devora-os sem atraso
Sob histéricas risadas
Desgrenhada
Numa felicidade oca
Com o sangue dos inocentes
Escorrendo de sua boca.

Bacante peluda
Nua
Com seus dentes caninos
Come rindo suas presas
Que morrem canibalizadas
Incertas, sorrindo.

Ela invade blocos,
Luaus,
Boleros,
Pagodes
E saraus.

A polícia a procura
Distinta
Mas ela some
Na quarta feira de cinzas.

Ela está por aí disfarçada
Na professora,
Na empregada,
Na mãe de família,
Na dona de casa.

Na poética da narrativa;
Na surpresa da vida;
Na temática da poesia.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Bico-doce

O tempo passa, e quando deu pela coisa Valdecir estava com trinta e dois mal vividos. Sobrevivia aos trancos e barrancos, de expedientes e favores, vagau e divagador. Como não fazia nada podia ser considerado um craque da subsistência mundana. Sem passagem pela polícia, era malandro manso: olhar dócil, voz respeitosa, gestos medidos. Sempre um argumento a justificar a semivigarice - ora a saúde, ou a pouca instrução, até falta de tempo.

Em permanente atraso na pensão, só não era despejado pela Maria Baiana porque de vez em quando chegava junto, apertava suas carnes fartas, deitava em seu colchão de crina, permitindo que a morena montasse seu corpo esquálido e deslizasse na vara tesa. Ainda ganhava café da manhã.

Entre todas as manhas, essa: gostava da noite. Assim que um dia, em que tinha juntado trocado suficiente, tomou um banhão, tascou um perfume da Baiana, e foi a um cabaré, rever as formas, sentir o calor e a maciez da ilusão.

Quieto num canto, bebida parada no copo. Passavam junto dele loiras de bocas vermelhas, vestidos curtos, corpos quentes. Sorriam, tinham olhos brilhantes, e eram solitárias; putas são seres solitários. Sentia-se bem ali, uma solidariedade concubina.

Uma baixinha lançava olhar insistente. E agora? Se ignorasse, acabaria perdendo a chance; se aceitasse, teria que pagar uma bebida. Sofria a indecisão quando ela se aproximou, e não teve jeito, porque às vezes um é feito pro outro.

Estendeu a mão e o nome - Rosa. Sentou no tamborete ao lado. Coxas roliças são melhores que pouco dinheiro. Ofereceu bebida. Feitos um para o outro, ela colaborou:

- Bebo do teu copo.

Porra, vai por mim: não tinham assunto. Pra quebrar o silêncio, ele falou “Vou ler tua mão.” Além do mais, ler a mão era uma cantada que não costumava falhar. Tem mulher que adora ser enganada, pra dar sem responsabilidade. Rosa estendeu a mãozinha esquerda.

- Você está apaixonada.

- Como você sabe? Conta mais!

Valdecir preparou o bote:

- Ele tem outra.

A mão tinha linhas e marcas, como qualquer outra, só que era mais macia e aflita.

- Outra quem?

- Outra, porra, bonita e gostosa como todas as outras, como vou saber?

- E eu, sou o que?

- Pra mim, você é bonita e gostosa.

- Você também tem outra?

- Não tenho nenhuma.

Ela ajeitou com os dedos os cabelos curtos. Ele já esperava:

- Eu só posso sair depois das duas. Tudo bem?

Elas sempre pagam na mesma moeda.

- Por você eu faço qualquer coisa.

- Mesmo?

- Mesmo.

Duas e meia, garçons empilhavam mesas, varriam o chão, ela veio. Pegou-o pelo braço, e levou-o ao seu apartamento, pequeno, porém pago com o suor dos seus lençóis. Tinham dado a primeira, ela quis saber:

- Onde você aprendeu a ler a mão?

- Eu não sei ler a mão. Estava a fim de você.

Apoiada no cotovelo, voz irritada:

- Quer dizer que ele não tem outra?

- Ele, quem?

Ouviram a chave abrindo a porta de entrada. Mal tiveram tempo de cobrir os corpos com o lençol, um tipo mal-encarado, careca e forte, entrou no quarto:

- Que merda é essa?

- Ele disse que você tem outra.

A janela estava aberta, calor sufocante, agora insuportável. O brutamontes puxou um revólver da cintura:

- Põe a roupa.

Valdecir respirou aliviado, e vestiu-se rapidinho.

- Agora, salta.

- Salta?

- Pela janela. Salta.

- Mas estamos no décimo - segundo andar!

- Por isso mesmo. Salta! Ou eu atiro na tua cabeça.

Uma bala na cabeça é sempre fatal. Salto no escuro tinha sido sempre sua vida. Chegou perto da janela, a rua tava longe pra caralho, explodiria como uma melancia, sangue e merda espalhados no asfalto. Lançou a fala mansa:

- Quantos você já matou?

- Não interessa, você não é polícia. Pula, ou te furo a cabeça!

- Posso ler tua mão, antes?

- Pra que?

- Pra eu saber quantos você já matou, ou se serei o primeiro.

- Você não vai pular?

- Nem fodendo.

- Então vou atirar!

- Deixa eu ler primeiro, que diferença faz?

- Bom... Então vem ler. Se você acertar, só atiro no joelho. Se errar...

Pegou a mão do cara, virou a palma pra cima, e viu que era igual a todas as outras: linhas e marcas. Fez alguns sons com a boca, murmurando consigo mesmo, balançando a cabeça em desaprovação. Olhou pro rosto boçal do outro, ar piedoso. O grandalhão se impacientou:

- O que foi? Viu o que?

- Você não vai gostar...

- Fala logo, porra!

- Ela tem outro. Você tá sendo chifrado. Sinto muito.

O brutamontes olhou a amante, que já estava pálida:

- Você sempre disse que eu era o único... Que não teria outro...

- Ele é um mentiroso, Armando, não sabe ler mão, nem nada... Assim você me deixa preocupada!

Enquanto Armando sentava na cama, a arma apontando para o chão, o olhar buscando os cornos da lua, a mulher se explicava, entre lágrimas.

Valdecir deslizou em direção à porta. Abriu, saiu, e tomou o elevador. Não ouviu tiros, nem gritos. Andando sem pressa rente à parede, juntava forças pra chegar em casa e garantir o café da manhã.

Conto de Luís Valise

terça-feira, 26 de abril de 2011

CUBOS DE GELO

Acho que até esqueci a fumaça que traguei
Não espera ouvir o disco agora
Assim no meio da tarde
Tipo ir pelo mundo a fora

Ainda sobraram umas doses do whisky
É só colocar no copo
Com uns cubos de gelo
E ir ao encontro do meu flagelo

Tem horas que é melhor mesmo
Ficar ouvindo o Pink  Floyd
Do que sair pela rua

Imaginando que a vida é sua
Então ficarei por aqui
Imitando a vida

Que existe dentro de mim
E longe das serenas
Flores do jardim

sábado, 23 de abril de 2011

Singular

A centelha de luz que te cabe,
Que te segue e conduz; tua guia
Nesse mundo que pulsa e te sabe
Uma estrela perdida na via
Percorrida por muitos.

Singular que do escuro se entreabre
E se firma no breu, maravilha
Da galáxia na láctea amizade
Percebida; que surge e turbina
A impressão: somos únicos.

Desconhece-se a luz que não esparge,
Que se fecha e se esconde em surdina.
O pensar se faz vivo e sem par
Em magnéticas ondas; um ímã
De atração, denso e plúmbeo.

Poema de Yayá

BAIXADA É ARTE

Olá a todos,

segue a divulgação virtual. Por favor, enviem para suas listas para "bombarmos" a Semana Baixada é Arte!
O material impresso (folder e filipeta) ficará pronto na segunda-feira. Vamos avisar vocês para marcarmos, com quem desejar, de cada um pegar um pouquinho para divulgar!


email_mkt_v3.jpg



Sobre o projeto:


A Semana BAIXADA É ARTE une, em um mesmo espaço, importantes trabalhos de diferentes linguagens artísticas – música, cinema, literatura, teatro e dança – a debates temáticos, com o objetivo de valorizar a produção cultural da região. Mais do que um evento, esta Semana deve ser um movimento de união dos artistas da Baixada em prol da cultura local. Nestes cinco dias, artistas de expressão irão mostrar que a Baixada Fluminense pode e deve estar integrada à sua riqueza cultural.


BAIXADA É ARTE nasceu do projeto O Canto da Baixada, do cantor e compositor Bira da Vila, que reúne exclusivamente obras de compositores de samba da região.

"A valorização cultural da Baixada Fluminense deve prestar homenagem aos antigos artistas, mas também olhar em direção ao futuro, e encorajar a produção dos novos criadores. Fazendo uma ponte entre estes e o público, o evento busca incentivar o desenvolvimento cultural da região."

Bira da Vila

ESPERAMOS TODOS LÁ!


--
Pagu Produções Culturais
Carolina Bellardi
21 7719-7489
21 8118-7525


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Assovio

as janelas se abriam
todas as casas olhavam o céu
afastava a cortina
o dia vinha raiando
se espreguiçando em minha boca
a terra chamava com pressa
afofava um travesseiro
para os sonhos
o vento embaraçava as folhas
eu assistia a calmaria do dia
no céu escrevia minhas lendas
o vento vinha e apagava
subia pelas árvores
me lia pelos galhos
não tinha hora
não tinha relógio
nos pés calçava o ar
em seu vestido vermelho
a Joaninha passeava
as formigas todas de pé no chão
ah, brincava e corria tanto
que o dia não me alcançava
o vento assoviava
a última folha caia
era hora de voltar...

Poema de Vânia Lopez

BOSQUE

A vida é uma caminhada
Que às vezes nem sabemos onde dará
Mas é nesse bosque
Onde nos confidenciamos
Com árvores e pedras
Banhados pelos raios de sol
Que furam a floresta
Que tentamos nos encontrar

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O lenhador

O lenhador desce a lenha com o machado
E parte a lenha ao meio
O lenhador desce o machado na lenha
E parte a madeira ao meio
O lenhador desce a parte ao meio
E lenha a madeira do machado

O lenhador esculpe um novo cabo

O lenhador decepa um dedo
E enfurecido decepa a mão o braço o pé a perna
O lenhador escalpela a consciência
O lenhador inconsciente
O lenhador inconseqüente
Sem ciência nem paciência

Cantarola enquanto corta:

O Mundo é cruel porque o Homem é cruel!
O Homem é cruel porque a Vida é cruel!
A Vida é cruel por que, meu Deus?

Uma tese não prova nada
Uma tese nada comprova
Um caminhão carregado
É meio caminho andado
Uma ova

Imposto pro Estado
Dízimo pra Igreja
O pobre quebrado
Sem cobre pra breja

Espanco a mulher
Espanco meu filho
Não meta a colher
No meu estribilho

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar
Não se banha duas vezes no mesmo rio
Ninguém cava sua própria cova
Uma ova

A árvore centenária bipartida
A árvore da vida
A árvore caída

O homem morreu

O raio caiu
O rio correu

Poema de Andri Carvão

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mãe Paula


Sou filho de Mãe Paula
Que não é do santo
Mas namorou com o misticismo
Sou filho de Mãe Paula
Rezadeira de primeira
Tirava quebranto e mau olhado
Abria a boca e lacrimejava os "oios"
Ao tocar nos "fios" carregados
Sou filho de Mãe Paula
De cabloco forte e seguro
De passes certos e decisões impassíveis
E com a permissão de Deus
Escolheu a hora de partir.

Jorge Medeiros

A passagem do tempo custa caro

Quase Um Feto

Quem você pensa que é?
Você sabe com quem está falando?

Eu sou um velho decrépito
D e t e r i o r a n d o . . .

Eu não sou velho:
Só sou jovem há mais tempo.

Eu não estou ficando velho:
Estou virando um clássico.

Ei!
Acorda meu caro!
Levanta e anda!
Caminha!
Ei!
Ainda está vivo?
Sacode a poeira!
Respira!

Aviso aos Navegantes

Aos que ainda estiverem vivos
Levantem as mãos!
Aos que já estiverem mortos
Levantem aos céus!

Aos que ainda estiverem vivos
Morram!
Aos que já estiverem mortos
VIVAAA!

Aos mortos-vivos!

Aos que estiverem exaustos
Insônia!

Aos íntimos!

Poesia

Um porto seguro
Uma válvula de escape
Uma tábua de salvação

Línguas Mortas

Devia amanhecer bem morto
E ao arregalar bem as janelas da alma
Furar a terra e o cimento
E levantar do berço de barro
E velhinho de tudo durante o caminho cansado
Soerguer lentamente
Conforme as rugas desaparecessem
E a cara corasse
E o ímpeto e o ânimo irradiassem
E raiassem
E viveria cada vez mais jovem
E toda noite só o sol
E a cada dia mais jovem
E peralta com o passar dos anos
E cada vez mais e mais
Até o útero da mãe natureza
E o saco do pai todo poderoso

Mas não

A cabeça num travesseiro infantil
Repousa
As mãos cruzadas sobre o peito
Calcanhares unidos e as pontas dos pés
Pendendo em separado
O cheiro de incenso
As roupas de domingo
A chuva encolhendo a todos
Até enferrujar os ossos
Silêncio
Principia a cerimônia derradeira
Em meio a soluços
De dor ou de alívio
A sete palmos do céu
Um passo em falso
E chão
Pás de terra sobre o pó
A pedra cinza e fria sobre a
Madeira frágil
A graça entre a estrela e a cruz
A relva e a pátina do tempo
Cobrindo tudo
As doze badaladas
O canto do galo
E o ostracismo inevitável

Uma estrela que cai
É uma pena
Um poeta que sai
De cena

O meio é o fim
E o fim um recomeço

O Inferno são os outros que me habitam


Poemas de Andri Carvão

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Música para elevadores

A porta abriu para um andar vazio. Continuei sozinho, em ereta e determinada

contemplação do nada, a língua esgravatando o buraco da cárie, de reparo sempre

adiado pelo mestre da procrastinação. As paredes metálicas, um todo de assepsia

brilhosa, numa paz erma e escorregadia. Emparedado e móvel, a setenta metros

de altura. O aço por testemunho do que piso e me cobre a cabeça; perturba–me

essa música rastejante sob o silêncio, a ausência de cheiros, odores e nuances.

Um ser assustado me observa, do outro lado deste dilema de aço: eu mesmo,

sobraçando meu jornal e minha circunstância. Talvez a vida me tenha sido leve:

sentimentos anódinos, memórias desinfetadas, o fim da infância descoberto no

limiar da velhice. Agora, a música tão próxima, quase a brotar–me dos olhos,

ligados na tinta forte das manchetes. Paramos. Mais alguém na caixa. Uma

mulher–ruiva de fato ou circunstância? Procura na bolsa, tateando um sentido

inexistente aqui fora, até esbarrar no batom; joga os cabelos para trás, em frio

e largo gesto; retoca os lábios fazendo minhas pupilas de espelho, mas não me vê.


Conto de André Albuquerque

domingo, 17 de abril de 2011

Hoje...Não!... Por que?

Entre o sofá e o quarto é um caminho largo?
Mas quem dita dogmática regra?
O certo e errado não está na sola do sapato
Quando o pé por vontade nos carrega!!!

E se o desabrochar da flor dobra o tempo
E a libido, das certezas, faz imprecisão
O melhor é aproveitar o doce momento
Já sem culpa, nem necessidade de perdão

Assim sem ética e pecado, sugiro, deite
Sem ritual de no primeiro dia dizer não,
Permita-se, aumente o volume do teu deleite
Ouça o peito, desligue a danada televisão.

Poema de Dupoeta

Mundo além...



SENNA


Quando ferida por palavras e usada pela vida...
Desabo, choro, grito.
Sinto que às vezes preciso-me afogar em lágrimas...
Redescobrindo oásis enterrados em minhas entranhas.
Quando a injustiça me visita devorando-me a alma,
É questão de honra expulsá-la do meu jardim,
Que é para não impregnar meus jasmins.
Quando tudo parece estacionar,
Tenho certeza que estou no caminho delineado...
Cheios de espinhos, os mesmos se converterão em lírios...
Cedo ou tarde,
Sei que encontrarei uma trilha colorida para o mundo além.



((( Camila Senna )))


Essência em mutação...



Estou como lagarta virando borboleta, em plena metamorfose.
Bebendo vinho com doses de ousadia...
Comendo do pão da intrepidez...
Configurando minha vida e dando forma as minhas roupas.

Roupas vívidas e otimistas!
Alinhando meus passos, desenhando
e colorindo os meus sonhos.
Buscando ser inteira, sem sombra, sem mácula.

Ser a história lida e bem resolvida.
Ser avenida movimentada, não gosto de ruas paradas!
Ser o curso concluído no meu currículo.
Fazer do meu corpo instrumento vivo, ativo...

Produzindo música...
Música essa, que me levará às portas da promessa.
Ser o presente bendito sem envolto algum, recebido com prazer, com gozo.

Gozo esse, que trará a cada dia, 
felicidade para minha existência,
em ligação direta com meu coração,
sem indagação!

Horas poeta, horas artista.
Idealista, é o que eu sou!
Sigo na pista em busca da conquista...
Conquista da superação.
Superação do velho, do novo.
Do que está por vir sem rejeição!

Na aquarela do meu viver, pintar meus sonhos.
Na cidadela da minha alma, ser estrela sem limite de duração.
Ser água de dia, límpida, branda e fresquinha...
E que venha o fogo de noite, acender meus desejos e repor minhas energias.




((( Camila Senna)))
 
 
 

Alguns poemas infantis

Arco-Íris

O arco-íris
é o arco da terra
que começa na cachoeira
e termina na serra.

O arco-íris
não é arco de flecha.
Ele se abre
feito leque de gueixa,
feito cauda de pavão.

O arco-íris
é a partitura da canção
da paz
num tobogã de notas musicais.

Chá com Bolacha

Abro a lancheira
no recreio
cheia de lanche
no recheio.

Cheiro de chá
com bola-
chá com bolacha
no meio.

O Sapo

O sapo pula na poça.
A poça, lupa do sapo.

O sapo
não poupa
um passo
na sopa.

Sem Pé Nem Cabeça

A pé
até
agora e depois

o carro na frente dos bois

café
com leite pão
com manteiga feijão
com arroz

pé um pé dois
pé um pé dois

na planta do pé
o pé da planta
fingido é
o que se espanta

pé ante pé
de antemão
de pé
no chão

nas nuvens não

nana nina né
nana nina não

V i o l i n o

a cria
que guia
e grila
o grilo
que cricrila
aquilo
que guia
a cria


Autor: Andri Carvão

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Canto negro

a terra enxugava o suor dos pés
ao lado o cafezal
a poeira levantava do chão
era feliz enquanto a dança durava...
o sol escorria no rosto, no corpo
quando o luar batia como noite
na pele negra
botava fogo no coração da gente...

Poema de Vânia Lopez

Natureza

Chupa-me
Com boca, língua e lábios tantalescos.
Chupa
Teu picolé fresco,
E baba e ama e sua
Minha genitalha
Sob o sol tórrido,
Sob um céu hórrido
De recalcada vindita,
Na praia do mar
Que conspira em silêncio,
Embora marulhoso,
Confrontando-se com a pedra
Em rancorosa desdita.
Num carro que a areia
Planeja engolir
Semovente, sorrateira
Tanto o herói quanto a sereia –
Orla que devora tudo,
O pulso, o músculo,
Auroras e crepúsculos
Litoral irascível,
Sequioso,
Como tu,
Ó boca, bacante
Abocanhando-me,
Despindo-nos de tudo
De qualquer linho ou veludo,
Todo o tecido
Esgarçado, franzido
No jeans da tua levi’s
Nesta hora indefenível,
Enquanto, além,
A floresta fumegante,
Brasil, braseiro,
Ampla terra de ninguém,
Arde
Na pélvis
Das meninas durante
As tardes e noites,
Noite adentro
Em boites,
Prostíbulos,
Turíbulo
Com que incensamos o dia
E a atmosfera
Que nos desce e se espalha
Das carvoarias,
Grossa, fornalha,
Feito hera
Sobre nossas casas
E as gaiolas dos gaturamos
Enquanto gozamos...

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

Como escrever versos

Tempestade de neve
Tempestade de areia
Tempestade interior
Moinho
Moendo água
Redemoinho
Remoendo a alma
Pingo de gelo
Estalactite
Estalagmite
Dinamite
Cratera na gruta
Chuva de diamantes

Poema de Andri Carvão

SAMBA EM BERLIM (Arnoldo Pimentel e Anderson Oliveira)

SAMBA EM BERLIM
 Autores Arnoldo Pimentel e Anderson Oliveira

Tomei um samba em Berlim
Escureceu a vista
Virou uma coisa louca
Tropecei no guarda roupa
Fui parar no banheiro
E apanhei
Do chuveiro

quarta-feira, 13 de abril de 2011




A leveza
de minha existência
se encontra
no peso de um
corpo suado
sobre o meu...

Jorge Medeiros

Ópera

Ópera tem público cativo,
Palco requintado, caprichoso;
Canta uma desgraça, canto lírico.
Baixo masculino, o pesaroso
Sola comovido o sopro lívido;
Frente a toda a gente, um poderoso
E ávido tenor se opõe ao assovio
Alto da soprano em perigoso
Salto de uma escala, passarinho.
Mezzos e contraltos estão em coro
Próximo ao cenário, meio escondido;
Quadro de um seleto som charmoso.
A arte colossal e o seu cinismo
Sóbrio ao se curvar, fraque obsequioso
Ao último suspiro fugidio.
Mestre em contratempo lento ou mosso;
Some a dominante insensível.

Poema de Yayá

terça-feira, 12 de abril de 2011

Febre

deita-me fogo..

aconselha-me ao voto de cair
sopra-me asas de um outro sempre-destino
ou anseio por um posto desigual..
livra-me de convulsões deste fim
ora,
- propague!!
caiba-te sob os meus pés, o rosto re-gelado
e
me
desfaça ao olho nú..


da tarde reticente
de poréns, em. tempo quase ausente
em imagem rectida por ensaio
à liberdade, acima, ou espaço

inexiste
tempo-desertor
inexiste
tempo-tempo-tempo.. e torpor

não me fere..




deita-me fogo..

define meus aspectos de ti, previstos
da caçada por teus lados e riscos
dá-me prata por caso de compras
aponta-me algures por comparar-te
vale-me à cura destes dias
por um veto
por afronta da tua parte
e.
guia-me, fim..



parte penitente
advém por mim, sendo carta, perene
da paragem explícita por onde caio
à verdade, ou vida, ou um teu rastro..

insiste
alento-precursor
insiste
sendo-sendo-sendo, teu.. o tempo que (me)for..

excede-me..




deita-me fogo..
e.
me livra..
da plena-parte que te quer.




http://www.youtube.com/watch?v=kuIyiqOGXB8

Poema de Azke

chão de lantejoulas

te arranhei com as palavras
as que guardei
as horas foram sumindo
nas asas de uma música lenta

sentados no silencio de nós
uma caipirinha estendida no copo
a alma ansiando por um jardim
que comporta se teu perfume
o salto doía
tropeçando no teu nome

espalhei os lábios
na mesma palavra
queria usar o deslumbramento
dos seus quadris pintados
em confissões de corredor

queria te guardar
como sorriso no retrovisor
como vermelho no meio de tudo
queria me cobrir com sua pele
(te deixando sem corpo)

foi maior que o salão
foi mais que um cigarro
molhei as pedras lisas
com água florida
para rever as borboletas
que inconscientemente descansam
entre seu peito e cintura
entre o perdido e o que virá

(descansar as mulheres em mim assoviando)

Poema de Vânia Lopez

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Iniquidade

sorrisos incandescentes
sobrepõem-se à angústia
torniqueteiam aflições
retardam o tremor das pernas

bocas escancaradas
encobrem saudades
fracionam turnos de solidão
selam bolsas lacrimais

a gargalhada ainda ecoa no pátio
onde em fila indiana
os doze apóstolos pequeninos
aguardam ansiosos o retorno ao céu.


Poema de Betusko

Foi assim...



Onde foi que me perdi?
Será que numa neblina
Dum dia vulgar?
Ou num sol quente
Dum dia espinhoso sem mar?
Mas já resolvi:
A primeira não quero mais encontrar
Perdi minhas digitais,
Rasguei minhas roupas,
Queimei os fatos,
Tirei os sapatos,
Apaguei as pegadas. “Sumi!”
Quando me revi, foi assim:
Cheia de desígnio,
Cheia de “sim”,
Sangrando sexo
Abortando o tédio,
Estuprando o amor,
Exalando minha cocaína natural. 







  ((( Camila Senna )))

domingo, 10 de abril de 2011

TRILOGIA DO ORGASMO (Arnoldo Pimentel)


POR AMOR

Com carinho
Com amor
Que sentindo o beijo
Molhado se arrepiou
De desejo suspirou
E entre gemidos de orgasmo
Por amor se entregou


LENÇOIS AO ACASO

A pouca luz
Vinha do abajour
Os lençóis jogados
Deixados ao acaso
A canção de amor que tocava
E os orgasmos misturados
Balançavam
O aquário


LUA DESPIDA

A lua brincava
De olhar para o sol
Que a despia
De longe
Com o olhar
Sentia seu corpo
Para ele se entregar
Se deixar levar
Se deixar penetrar
E de longe
Só de olhar
O sol simplesmente
No orgasmo
Se deixa sonhar


JARDIM DE ORAÇÃO Deus mato de sentimento Orvalho no meio da noite Orgasmo no fundo das igrejas Deus cacho de uva, de banana pão,carne,música ,poesia Deus alma de gente Brilho de perola do azul verde mar Deus pedra,espuma quebrada ressurgida no universo Deus Espírito das matas É planeta do seu próprio filho nosso irmão Deus orvalho e orgasmo Princípio de prazer da criação Ivone Landim

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Laterninha 2 ( A Missão )

Na tela grande
Da sala escura
O sonho expande
Sua triste figura

O último dos moicanos
Os safados
Pixote a lei do mais fraco
De olhos bem fechados

Bonnie e Clyde
Top gun
Butch cassidy
Forest gump

A lagoa azul
Assassinato em gosford park
Veludo azul
Jurassic park

Amores brutos
Beleza americana
Sociedade dos poetas mortos
A outra história americana

O resgate do soldado Ryan
Gladiador
Bom dia Vietnã
Meu primeiro amor

Diários de motocicleta
A maçã
Ladrões de bicicleta
O doce amanhã

Tropa de elite
Trama macabra
Billy Elliot
Os caça fantasmas

A viagem de chihiro
As bicicletas de belleville
Sete homens e um destino
Horror em amityville

Quatro casamentos e um funeral
Os gritos do silêncio
E o vento levou
Óleo de Lorenzo

Procurando Nemo
O pagador de promessas
Jardim secreto
O massacre da serra elétrica

O garoto
Nosferatu
Sonhos
O náufrago

O balão branco
Abril despedaçado
Os doze macacos
As aventuras do capitão tornado

A mosca
A eternidade e um dia
A morte pede carona
Aracnofobia

O exorcista
O clã das adagas voadoras
Short cuts cenas da vida
O homem que matou o facínora

Toy story
Henry & June
Star wars
Nascido em 4 de julho

Madmax
Gêmeos mórbida semelhança
Crash
Eterno brilho de uma mente sem lembranças

A roda da fortuna
Barfly
O reverso da fortuna
Madame butterfly

Quando as metralhadoras cospem
Tempo de violência
O jovem frankeinstein
Época da inocência

Drácula
Piratas do caribe
Calígula
A honra do poderoso prizzi

Control
Papillon
O império do sol
As pontes de Madison

O sexto sentido
Deixa ela entrar
O império dos sentidos
Vestida para matar

O tigre e o dragão
O profissional
Arquitetura da destruição
Atração fatal

Blade runner
Monstros S.A.
A lista de Schindler
E la nave va

Matrix
O passageiro do futuro
O grande lebowski
De volta para o futuro

Chuva negra
Central do Brasil
Água negra
Dogville

A bruxa de Blair
Cemitério maldito
Hair
Entrevista com o vampiro

Dança com lobos
Ligações perigosas
Sobre meninos e lobos
Noivo neurótico noiva nervosa

O último tango em Paris
A mão que balança o berço
O senhor dos anéis
Mulheres a beira de um ataque de nervos

O piano
O corvo
O labirinto do fauno
Estorvo

Lolita
Pacto sinistro
Colheita maldita
Cinema paradiso

As letrinhas ascendem
As luzes acendem
Lá fora na fossa
Caminho da roça

Poema de Andri Carvão

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Chacina de 7 de abril de 2011.



Meu coração hoje, dia 07 de abril de 2011, sangra. Sangra revolta pelas vidas friamente assassinadas em Realengo, Rio de Janeiro. A cidade está de luto. Manchada por sangue de crianças inocentes que estavam em sala de aula para aprender, sonhando com seu futuro, idealizando sua profissão, estudando para ser alguém. O fim do mundo para mim é o cenário de hoje; o amor está esfriando...

Filhos que mandam matar pais por dinheiro, mães que jogam seus filhos no rio, no lixo, porque querem se livrar de ser “mãe”. Irmãos brigando e planejando a morte um do outro por herança, o Massacre da Candelária e tantos outros casos violentos já acorridos aqui no Brasil, mas o de hoje, chocou-me o coração de uma forma peculiar.

Fiquei perplexa com tamanha frieza e incredulidade para com o outro, quanto ódio tinha aquela alma, que por não se amar achou nada acabar com a vida de filhos de mães que só queriam viver, ser, e crescer. Sou mãe, e vendo as imagens e os relatos de pessoas, fiquei sem chão. Bateu-me uma angústia de escurecer a vista, me deu medo, senti ódio da forma cruel e impiedosa que esse “menino monstro” executou seu plano.

Não sei o contexto da vida dele, qual o trauma de infância, se era maluco(não creio), não sei. Só sei que ele adentrou friamente naquela escola, onde um dia estudou. Planejou tudo espalhando terror, fogo e sangue. Creio que se não fosse um aluno ligar para sua mãe e avisar o que estava acontecendo, a trajédia seria pior, o cenário seria de filme de terror. A impressão que tenho, é que ele não foi alí para matar algumas pessoas, foi para matar a todos.
Como quem não tem coração, temor e nada a perder. Seja lá o que se passou naquela vida parasita. Nada, nada lhe dava o direito de fazer “justiça injusta" com as próprias mãos. Fazendo guerra, causando espanto, deixando mães sangrando, deixando sequelas e um vazio que muitos, no decorrer dessa chacina, sentirão. Não sendo mais os mesmos.
OS GRITOS DE JUSTIÇA ecoarão para o além. O assassino, monstro, frio e cruel, matou-se.

A súplica que faço aos céus, agora, é que Deus, com sua mão de misericórdia, cuide das mães devastadas, sabendo que aqueles corações jamais serão os mesmos. Meu Luto.



((( Camila Senna )))




revoada

perto das três horas da tarde
a primavera desenhada em minha saia
se iluminava
saia correndo pelo quintal
causando revoada nas galinhas
encostava o dedo no arco íris
puxava uma linha
fazia um rabo de cavalo no sol
tudo podia, tudo podia
eu rodopiava
rodeava a barra da saia
com as mãos em concha
ficava caçando os sorrisos
que iam caindo...
rezava um a um

Poema de Vânia Lopez

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Maestria...

 
Pense num povo guerreiro, de alma otimista, de procedência bem quista. É aquele povo que agora, sofrido, grita por "socorro"... O respeitado Japão. Impressiona-me vê-los no meio de um pesadelo e ainda sorrir, e ainda dizer obrigado, e ainda ser paciente. Sendo que sua terra, sua morada e sua gente foram devastadas ao léu. E com ela, corações, sangue, vida.

Me peguei imaginando um dia sem os meus. Meus olhos inundaram-se de lágrimas. Imaginem aqueles que perderam todos, sem exceção?

Outra coisa que flagrei-me a refletir foram os milagres da sobrevivência, mesmo com tantas tragédias. Vidas foram salvas de tal forma que aos olhos humanos, aos olhos dos normais, era impossível, era delírio. Mas aconteceu. Milagre? Creio que sim, milagre! Quantos nessa vida de meu Deus já tomaram tombos bestas e morreram?
Quantos foram atravessar a rua e morreram? Já pessoas em situações extremas, como a do Japão, passaram a perna na morte e sobreviveram.

Se isso não for milagre divino, não sei bem o que é, não sei qual o mistério. Parece que o Pai maior diz assim: "Ei, você não vai agora não, meu caro, sua missão ainda não terminou, ainda tem muitas lutas regadas de vitórias pela frente". Não adianta, é assim que vejo pessoas que eram para estar a sete palmos daqui e estão ali... Reconstituindo suas vidas, refazendo-se, fortalecendo-se e vencendo.

Diante de tudo que vimos pela televisão, diante de tantas tragédias e destruição, você pode ter a certeza:
a força de vontade, a humanidade, a união e a educação que aquele povo domina prevalecerão. E são com essas pequenas grandes armas do "saber viver" que os japoneses sofridos, mas jamais vencidos, levantarão tijolo por tijolo, com audácia e maestria, seu mundo. Esse é o dom que paira no Japão, a maestria
...


((( Camila Senna )))




Morte primeira de um outro querido

dentro parecia
se mover a morte
como um boi pequeno transita
pelas vísceras da cobra
depois de engolido em boca grande:
a morte já se mexia.
intuída num choro sem razão aparente
com o seu suspensório entre o nosso leve abraço :
descia
indigesta
ácida
até
o
fim
do gordo corpo.

eu que mato Deus todos os dias
não sei onde você está
mas sabe onde estou?
na Copacabana que você tanto gostava
mas aquela, avô, também já morreu
e parece que hoje vocês têm a mais fatal coisa em comum.

faltei sua última grande festa
seria um estrangeiro naquela terra preta
onde ninguém celebraria
ficando mais perto da comédia
a cada aperto da desgraça
conteria eu uma gargalhada?
olhariam lancinante
na dança entre túmulos e flores
o tango que você tanto gostava...

seu charuto, seu cachimbo, jazz, whisky e suspensório
seus caros gostos
quando já não podia pagar
foram os cifrões com as árvores queimadas
naquela Mato Grosso de terras suas grandes
do ceifado verde onde se esculpiam cadeiras, mesas e tronos
poderia eu receber maior herança
do que esses amigos-livros deixados ?
do que essa máquina de escrever que datilografa meus olhos todos os dias?
do que seu jazz letárgico condutor de leões?
seu livro de luz ainda não vista?
seu Zeca Malandro de Santa Teresa?
já sentia a solidão como estrela do quase manhã e deserto
agora é mais.
eu nascido de própria placenta
catarei a pá da morte quando bem quiser
e profundamente acredito
que a gente só morre quando quer

resta respeitar a sua decisão de partir
e só.
resta ler seus escritos e conhecer outras multidões suas desconhecidas
para matar saudade daquela turma que conheci.
resta o acaso da sua morte no sono
resta o seu ronco que era um navio chegando
e partindo de outro lugar você foi
sem maiores avisos doentes
como quem some de uma festa
pelo sexo e a moça encontrada
salva é minha dor pela nossa convivência de corpos distantes
porque o cotidiano é que ressente...

Anuncio: é chegada a horda leonina!
com força maior de destruir
tanto maior é o esquecimento
e com essas sementes-páginas que eram suas
já crescem como espinheiros grandes labirintos.

carrego agora a imaginação do teu corpo no meu.
darei a essa leve dor também felicidade
a menor máscara de todas
que é o nariz do palhaço
você morreu:
nasce Lupi.

Do seu coração parado e frio
surge um andar também de suspensórios
que me fará rir de mim mesmo
antes que os outros o faça.

Poema de Carlos Jubah

Clarice: a Lispector.

 

Trecho de um filme inexplicável, ousado, notável, porém de pouca explicação. Detalhes escorregadios, fragmentados, mas de grande intensidade e emoção. Assim sinto Clarice, a Lispector. Uma diva vestida de camaleoa, traçando fundo toda sua angústia, sua veracidade.

Irreverência nata, cuja mesma embasbacava e a alguns amedrontava. Ao responder perguntas em entrevistas, primeiro, o olhar verde banhado de breu, marcando fundo os olhos de quem a entrevistava. Pausa... E resposta. Fala intrépida, cortante, sem ponto final. Dona de si, regada de carência transparecida em seu ar de rainha e urgência.

A impressão que atormenta-me é que Clarice tinha uma fera feroz ferida dentro de sua vida, e de muitas vidas que a mesma criou. Sempre com resposta na ponta da língua. Pobre de mim tentar definir o inefável. É como nadar num mar estrangeiro de mais pura beleza, e o máximo que eu consegui dizer foram detalhes óbvios, sentimentos fortes, porém externos.

O que seria da literatura brasileira e do mundo sem Clarice? Menos ricos. Clarice compõe com grandeza junto com outros tesouros da terra Brasil. A pluralidade cultural e a liberdade de expressão através da escrita, sendo uma personalidade marcante no meio. Tenho certeza que seu filho ou sua filha de doze anos já ouviram falar de Clarice Lispector. Uma mulher que em forma de um vulcão em erupção entrou em cena... E quando se foi deixou o grito de sua voz ecoando como música que nunca fica careta.

Ao ler Clarice é preciso ter fôlego, pois é um suspirar atrás do outro. Dizem: "meu Deus, que mulher é essa..." Quantas marcas, quantas farpas, quantas palavras que muitas das vezes nos identificamos, aguçando nossas mentes, inquietando nossos sentidos mais reprimidos, aflorando em nós uma vontade louca de desatar nós, sendo tomados por um enigma que impregna. Ser for minha sina ler Clarice, quero seguir assim, sendo arrebatada por puro êxtase.





((( Camila Senna )))


http://minhaalmaepoesia.blogspot.com/

 .

terça-feira, 5 de abril de 2011

Lanterninha

Amnésia
Poltergeist
Assassinos por natureza
Koyaanisqatsi

Cortina de fumaça
O céu que nos protege
Cova rasa
A canção de Bernadete

Shine
Um mente brilhante
Pequena miss sunshine
Família rodante

Morango e chocolate
Insônia
Como água para chocolate
A excêntrica família de Antonia

O auto da compadecida
Fantasia
Trem da vida
Festa de família

Psicose
Nascido para matar
Z
Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar

Gata em teto de zinco quente
O incrível exército de brancaleone
Parente é serpente
Indiana Jones

Um drink no inferno
Clube da luta
Tempos modernos
Irmão sol irmã lua

O anjo azul
Nell
A liberdade é azul
Cães de aluguel

Ran
Um sonho de liberdade
A vida de Brian
Luzes da cidade

Os pássaros
Tess
A rosa púrpura do Cairo
O falcão maltês

O livro de cabeceira
9 semanas e ½ de amor
Ensaio sobre a cegueira
Rebobine por favor

Fanny e Alexander
O enigma de kaspar hauser
Perfume de mulher
Taxi driver

Golpe de mestre
Adeus minha concubina
Morangos silvestres
Paisagem na neblina

Edward mãos de tesoura
Carrie a estranha
Mulher solteira procura
O beijo da mulher aranha

Delicatessen
O selvagem da motocicleta
Seven
O carteiro e o poeta

Gilbert grape
Anticristo
Sexo mentiras e videotape
A última tentação de cristo

O touro indomável
O ódio
O gênio indomável
Rastros de ódio

Um estranho no ninho
Tubarão
Marcelino pão e vinho
O poderoso chefão

Chinatown
Inteligência artificial
Apocalypse now
O pagamento final

O bebê de Rosemary
Alien o oitavo passageiro
Jê vous salue Marie
Os bons companheiros

O sol da meia-noite
O colecionador
Os embalos de sábado à noite
O último imperador

Cassino
Os intocáveis
Sem destino
Os imperdoáveis

Linha de passe
Cabo do medo
Scarface
Meu pé esquerdo

Não amarás
Em nome do pai
Não matarás
Um corpo que cai

Fargo
Platoon
Doutor jivago
2001

Laranja mecânica
Coração valente
Coração satânico
O silêncio dos inocentes

A primeira noite de um homem
Os suspeitos
Os últimos passos de um homem
Tomates verdes fritos

Paris Texas
Kids
Despedida em Las Vegas
Trainspotting sem limites

Vestígios do dia
O iluminado
Profecia
Curtindo a vida adoidado

TVSBT
Ditadura do plimplim
VHS DVD
A história sem fim
TV a cabo
TV a gato
DVD pirata blue Ray
Coca
Pipoca
Cinema em casa é de lei

Poema de Andri Carvão

Profissão poeta...

Abril 04, 2011



Profissão: POETA
por Mariana Filgueiras

Parece difícil rimar contas do mês com poesia, mas não para todo mundo: há quem viva de livros, sites, oficinas literárias e até eventos para empresas

A polêmica sobre o valor autorizado pelo Ministério da Cultura para captação de recursos para o blog de poesias da cantora Maria Bethânia — R$ 1,3 milhão — deu novo fôlego a um debate há muito esquecido: o valor da poesia.

E, principalmente, o valor de quem a promove. Se o montante pedido para o projeto “O mundo precisa de poesia” é muito ou pouco, talvez nem os 72 heterônimos de Fernando Pessoa saibam dizer. Mas fato é que muita gente, com muito (muito) menos, consegue não somente divulgar, mas até viver de poesia. De autores laureados a vendedores de rua — aqueles do desconcertante “Você gosta de poesia?” — fomos atrás das histórias de quem encara os versos como ofício.
Nos anos 70, quando integrava o grupo de poetas Nuvem Cigana, Ricardo Gomes, o Chacal, chegou a trocar o próprio relógio de pulso por um jegue. O animal seria muito mais útil para quem pretendia viver de poesia num sítio no Sul Fluminense.

Em outra ocasião, decidiu passar um tempo em Londres, mimeografou cem cópias do livro “Preço da passagem” e vendeu no Baixo Gávea. Hoje em dia, avalia, o poeta tem uma realidade muito mais favorável.

— Eu vivo de poesia há 40 anos e posso dizer: as coisas mudaram muito — atesta Chacal, aos 60 anos, enquanto prepara a primeira oficina (remunerada) do g r u p o d e p o e s i a C E P 20.000, fundado por ele há 21 anos. — Hoje, há oficinas, editais, rodas de leitura, eventos pagos. Ainda não é uma situação ideal, muitos grupos precisam de apoio. A poesia corrige o analfabetismo funcional, melhora o uso da língua, malha os neurônios. Hoje, o governo compra poesia e distribui nas escolas, coisa impensável anos atrás. Não sei se aumentou o número de leitores. Mas a circulação e a remuneração, com certeza.

O poeta Ramon Mello, aos 27 anos, é um exemplo de uma novíssima geração que já experimentou esta boa fase. Ramon deixou a pequena Araruama, na Região dos Lagos, aos 16 anos, para estudar teatro no Rio. Como sempre gostou de ler e escrever poesia, criou um blog em que entrevistava autores iniciantes. Ex-editor da Língua Geral, Eduardo Coelho visitou o site e depois perguntou se Ramon tinha algum livro pronto.

Nascia assim “Vinis mofados”, lançado em outubro de 2009, com excelente recepção.
O blog deu origem a um site mais estruturado, onde Ramon já entrevistou mais de 80 escritores. Uma coisa puxou outra: numa das entrevistas, conheceu o escritor Rodrigo de Souza Leão, morto há dois anos. A convite da família, tornou-se curador da obra dele. Em pouco tempo, passou a cuidar também da obra de Dinah Silveira da Queiroz e organiza a antologia de poemas de Adalgisa Nery. Novas poesias vêm em ideias anotadas no celular, o blog segue online e o próximo livro já está quase pronto.

Em janeiro, Ramon organizou, com Chacal e Heloisa Buarque de Hollanda, o festival de poesia “A palavra toda”, e passou a dar oficinas para jovens poetas. Numa delas, no Sesc Tijuca, “adotou” o menino Thiago Levy, de 16 anos, exvendedor de balas que se inscreveu por indicação da professora de Português do colégio público.

— Ele entrou todo marrentinho, e achei que estava ali por engano. Mas ele soltou:
“Ué, aprendi na escola que o Machado de Assis vendia bala, que nem eu”. Como quem diz: “Eu quero ser poeta, como faz?”, ou algo assim. Passei num sebo, catei alguns livros, fiz um “kit-poeta” e dei a ele. Acho que primeiro você vive para a poesia, depois aprende a viver de poesia — ensina Ramon, de malas prontas para Recife, onde ministraria as oficinas no Festival de Literatura Digital, seguindo depois para a Festa Literária de Porto Alegre.

Quando decidiu ser poeta, o niteroiense Paulo Betto Meirelles, de 23 anos, também deu seu jeito: largou a faculdade de Direito, para desespero dos pais, publicou o primeiro livro (“Tabuleiro de egos”) e levou para Niterói o sarau noturno Corujão da Poesia, evento semanal que já frequentava numa livraria do Leblon desde os 19 anos. Criado pelo poeta João Luiz de Souza há cinco anos, o Corujão funciona como uma vigília literária: toda terça-feira de madrugada, o microfone está aberto para leitura de poesias. Quem está sempre lá é o músico Jorge Ben Jor, padrinho afetivo do evento.

— Propus ao João fazer o Corujão em Niterói, ele topou, e hoje a curadoria virou meu trabalho. Meus pais foram ver uma vez, acho que estão se acostumando com a ideia de que poeta também pode ser uma profissão — conta Paulo, que ainda é compositor e músico da banda Pelicano Negro. Foi no Corujão da Poesia que João descobriu uma maneirade remunerar os poetas mais “entregues”:

— Eu vi que gente importante entrava na livraria por acaso, enquanto estávamos botando fogo no Corujão, e olhava interessada. Então eu pensei em apresentar os poetas a esses empresários, oferecendo pequenos saraus para empresas. Deu certo, com o lema “torne o seu evento mais inspirador e emocionante, inclua poesia na programação”. Hoje, instituições como Tribunal de Justiça do Rio, Senac, Firjan e empresas contratam poetas, sempre pagando cachês dignos — reforça João, que já “exporta” seus poetas para eventos no país todo.

Uma delas é a atriz e poeta Betina Kopp, 27 anos, que se formou em Educação Física mas nunca quis exercer a profissão. No Corujão, Betina recita poesias próprias, mas especializou-se nas alheias. Já gravou audiolivros e criou performances poéticas — numa delas, oferece um menu de poesias para degustação, em que declama o “poeta-prato” escolhido pelo espectador — e apresenta-se em festivais de poesia em todo Brasil.

— A poesia me trouxe muito mais do que o teatro. Já conheci 11 estados do Brasil,já me apresentei no Canecão e no presídio Bangu 1, mostrei poesias a gente que nunca tinha lido um livro e ainda recebo por isso — diz Betina, que para a foto posou com as colheres-adereço que usa em suas performances.

Após dez anos trabalhando com poesia na editora 7Letras e na revista eletrônica “Modo de Usar & Co” (que publica em parceria com os poetas Ricardo Domeneck, Fabiano Calixto e Angélica Freitas), a poeta Marília Garcia, de 32 anos, decidiu dar aulas de teoria da poesia em universidades. Às vésperas dos concursos públicos para professor de faculdades de Letras, pode ser encontrada submersa nos livros na biblioteca da PUC.

— Ao longo desses anos na editora, acompanhei de perto o aumento do interesse pela poesia. Isso se reflete em mais possibilidades para o poeta, como a criação de um edital especialmente para a criação literária, que já dura dois anos (ela se refere ao Programa Petrobras Cultural), e na expansão dos grupos de poesia. No Rio, há eventos de poesia todos os dias — comemora Marília, lembrando que no último em que esteve como convidada, no Sesc de Jacarepaguá, surpreendeu-se com a quantidade de jovens na plateia. Depois desta entrevista, Marília aproveitou o tema e publicou em sua revista-site um poema de Bénédicte Houart que começa com os seguintes versos: “Com os direitos de autor/ do meu primeiro livro de poesia/ comprei um m&m amarelo/ duvido que alguém tenha saboreado os meus poemas/ com tanto alarido.”

— A relação tão forte com a poesia, no meu caso, vai além do trabalho com os versos, é um modo de ver o mundo, entender as coisas — diz Armando Freitas Filho é uma espécie de “Rilke coroa”, como ele mesmo define. Poeta há quase 50 anos, com 15 livros publicados e muitos prêmios para apoiá-los na estante, é a ele que recorrem jovens poetas ansiosos por orientação. Exatamente como fazia o jovem Franz Kappus com o poeta alemão Rainer Maria Rilke, no início do século passado — e que poeta iniciante, brasileiro ou alemão, não tem a correspondência trocada entreos dois, as famosas “Cartas a um jovem poeta”, no fundo da mochila?

A diferença é que Armando, aos 71 anos, faz tudo por email. Da ânsia dos jovens poetas, ele garimpa os textos mais bem escritos e indica para publicação. É assim que Armando vive de poesia: além de escrevêlas, trabalha atualmente como consultor das editoras. Foi ele quem descobriu as jovens Alice Sant’Anna, de 22 anos, e Laura Liuzi, de 24, que tiveram os primeiros livros (“Dobradura” e “Calcanhar”, respectivamente) muito bem recebidos no meio literário. A próxima aposta de Armando é Silvio Fraga Neto, de 24 anos. Seu primeiro livro vai inaugurar o selo de poesia da editora Bem-te-vi, no próximo mês de junho.

— Fico feliz em apresentar uma novíssima geração. É preciso conhecer poetas novos, senão ficamos com Fernando Pessoa a vida inteira — provoca Armando. — E o melhor é que o trabalho deles é completamentediferente. A Alice roça na poesia de Ana Cristina César; a Laura tem uma escrita mais subjetiva, com mais sombras; o Silvio tem o perfume da brilhantina de João Cabral — elogia o poeta, que teve como um Rilke particular ninguém menos do que Manuel Bandeira.

Quando foi convidado a dar a primeira palestra, no início dos anos 70, Armando percebeu que não estava fazendo um favor, mas um serviço: e que para isso precisava cobrar, oras, afinal não se vive de brisa. Juntou-se ao poeta e amigo Cacaso e juntos montaram uma tabela de preços que usariam a partir de então.

— Não deu muito certo, e eu só fui ser bem pago quando os poemas foram incluídos em livros didáticos — lembra Armando. — Ano passado, meu filho mais novo fez vestibular e trouxe a prova para casa: não é que estava lá um poema que escrevi aos 20 anos? Das três questões relacionadas a eles, acertei duas. E o mais curioso é que o gabarito das três era “C/D/A”, as iniciais de Carlos Drummond de Andrade. Concluí que Drummond é sempre a resposta certa. Da sua casa, na Ilha da Gigóia, o poeta Mano Melo, de 65 anos, concorda. Aos 16, ainda em Fortaleza, descobriu a poesia com Drummond e não sossegou mais. Veio morar no Rio, onde fez parte da “geração mimeógrafo” e de grupos de poesia renomados, como o Ver o Verso, com Claufe Rodrigues e Pedro Bial. Publicou oito livros e hoje conta mais de 40 anos pagando as contas com poesia. E com um pouco de sorte...

— Já passei muito aperto, os deuses da poesia te cobram muito, estão sempre testando sua determinação. Mas sempre que fico pendurado aparece um trabalho muito legal para fazer — conta. — Foi assim quando cheguei ao Rio, nos anos 70, e é assim até hoje. Foi vendendo livros de poesia mimeografados do Leme ao Leblon que juntei dinheiro para passar um tempo na Índia. Quando voltei, tive a ideia de fazer recitais nos auditórios das escolas particulares. Que professor de português recusaria? — recorda Mano, que teve entre os compradores de livro a escritora Clarice Lispector. Mano escreve todos os dias, das 15h às 2h. Acabou de concluir o novo livro, “Poemas do amor eterno”, que será lançado em maio. Mano também faz poesias sob encomenda, muitas para publicidade. Com forte sotaque cearense, gosta de repetir uma história que ouviu em Cuba, durante um evento literário para o qual foi convidado: um dos participantes contou que o filho fizera um pedido ao governo para trocar a profissão de enfermeiro pela de poeta, mas mantendo o salário.

— Ele me mostrou a respostado governo, aceitando a reivindicação, mas exigindo que o rapaz entregasse um livro por ano. Inacreditável, não? — espanta-se Melo, que vez por outra complementa a renda fazendo pontas em novelas.

Se o leitor reconhecer sua fisionomia em algum papel de porteiro, pode ter certeza: ali está um poeta despercebido num uniforme.

Assim como passam batidos os jovens do grupo Geração Delírio, que batem ponto todos os dias, depois do almoço, no “escritório”: as escadas da Biblioteca Nacional. De domingo a domingo, Paulo Alves Filho, Nelson Neto, Thiago Oliveira e Thiago Carvalho atravessam o caminho dos passantes para oferecer zines de poesia com a mal-recebida pergunta “Você gosta de poesia?”.
— De cada cem pessoas, umas 20 compram. Mas só uma dá atenção, para, conversa, lê, estimula... — conta Nelson Neto, que se sustenta há seis anos com os cerca de R$ 700 que tira por mês vendendo poesia por aí nas ruas.

Parceiro das calçadas de Nelson todos esses anos, Paulo foi alfabetizado pela mãe, em casa. Empregada doméstica, ela levava gibis dados pela patroa ao filho, que começou a devorar as revistinhas de “Dylan Dog” e a buscar novas leituras, até trombar com Augusto dos Anjos, o poeta preferido.

Hoje, é Paulo quem ajuda a mãe, com o dinheiro das vendas de sua obra.

— A gente se vira, sobrevive, mas não adianta nada se não houver leitores — analisa o rapaz.

Fonte: http://sorrisodogatodealice.blogspot.com/