Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 24 de janeiro de 2010

Teu cheiro

Teu cheiro
De suor curtido, dormido,
De sol a pino sobre andaimes,
Escadas, bueiros
Brita e betume.

Teu cheiro –
De quem sua de frio,
De medo, de náusea;
De quem transpira de gozo
De quatro sobre corpos
E camas,
O das putas e meninos
No batente de seus leitos,
Suando de medo, de frio.

Teu cheiro
De pressa sob o sol,
De apitos aflitos,
De corpos e gritos
Suarentos, esforçados
Por fito do qual se ignora
O motivo: puro rito
A ser seguido
Nos vigores do dia.

Teu cheiro
Desaba sobre mim
Em torrente,
Viscosa corredeira
De um vau sem fim,
Enterra-se fundo
Em minhas narinas
Por uma extensa avenida
Trescalante de rastos
E fétidos ares.

Teu cheiro:
Odor citadino
Do estranho que passa
Nos misteres diários,
Em pegajosos coletivos
Transpirando fadigas
E vasilhas vazias
Dos almoços e bares.

Teu cheiro
Pendurado nas marquises
Dos homens de macacão
E boné,
Sujos de tinta e estuque –
Como fedem sorridentes
Sob a torridez tropical!

Teu cheiro
Contra os perfumes
De meio ambiente:
Rosa, lavanda, baunilha,
Sachês aromáticos
Difundindo
Climas artificiais.

Teu cheiro:
Odor de cerrado ambiente
E sudorífera seiva –
Essência das horas
E trabalho
Que fica no assento,
Na roupa, no braço
Querendo ganhar os espaços,
A rua, o tráfego, intruso,
Feito um teto de febre e laje
Sobre exausta cidade.

Teu cheiro
Azáfama, faina e labuta
Epidérmica,
Sobre a musculatura do dia
Que perdura
Em absconsas regiões
De bílis, de afeto e quimera,
Mesmo após o banho
E uma noite sem sonhos.

Felipe Mendonça -
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